Tudo o que é verdadeiro,
tudo o que é respeitável,
tudo o que é justo, tudo o que é puro,
tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama,
se alguma virtude há e se algum louvor existe,
seja isso o que ocupe o vosso pensamento.
(Filipenses 4:8)
Se houve uma coisa que me marcou neste semestre no mestrado foi uma frase de Perelman, na aula de Retórica: “Mais importante do que saber quais são as suas prioridades, é saber em que ordem você as coloca”. Sim, porque, graças à criatividade humana, as pessoas têm muitas prioridades. Por exemplo, em toda virada de ano a gente promete muitas coisas: parar de fumar, ler mais livros, fazer uma atividade física, ganhar mais dinheiro, iniciar novas amizades, resgatar as antigas, visitar a Grécia, fazer coleta seletiva, plantar uma árvore, rezar pelas baleias – tudo bem, tudo bem, são todos desejos sinceros. Mas, o que vem primeiro?
Num jornal também é assim. Para conhecer a filosofia de uma editoria, nem é prioritário analisar que matérias compõe a edição – de maneira geral, todos publicam os mesmos assuntos. Importante é saber em que ordem as notícias entram na página. A gradação de assuntos é decisiva, é o caminho que alguém utiliza para chegar a determinado lugar. Sim, os jornais sabem aonde querem chegar. E a gente? Nem sempre. Enumerar prioridades é uma tarefa que exige um elemento precioso da nossa cognição: foco. Clareza de objetivo, meta, alvo. E a falta deste mesmo elemento precioso também pode ter muitos sinônimos, sendo que um deles leva a alcunha de: Síndrome do Eu Mereço.
Identifiquei os primeiros sintomas desse mal epidêmico num colega meu. Certa vez ele arranjou um emprego muito ruim por um salário muito bom. Ele não gostava da atividade, não gostava do lugar, não gostava dos colegas, mas a remuneração era excelente e ele foi ficando. A idéia era fazer uma poupança, comprar um carro ou algo assim. Ficou lá por dois anos e saiu sem um tostão no bolso. O motivo? Sindrome do Eu Mereço.
Era assim: ele labutava muito e, no fim de semana, era hora de compensar. Oferecer a si mesmo mimos e extravagâncias que ele, certamente, não precisaria se estivesse feliz no trabalho. Se voltava exausto na sexta-feira à noite e, no caminho de casa, tropeçava numa vitrine qualquer, o estrago estava feito: perfume importado em promoção? Bem, eu trabalho num lugar que eu odeio, então, eu mereço. Computador Mac Duo Core? Eu dou duro para isso, ora, eu mereço. Celular que filma, fotografa, toca música, acessa internet, passa fax, faz suco de laranja e até telefona? Depois de tanto sacrifício, ah, nada mais justo. Daí o contrato se encerrou e me liga ele lamentando os dois anos desperdiçados num lugar que ele não gostava, fazendo o que não gostava, com pessoas que ele não gostava. Pois é, o tempo não volta. E o fato dele estar me ligando de um celular caríssimo, convenhamos, não muda nada neste contexto.
Nenhuma apologia a uma vida franciscana, nenhuma campanha contra pequenos arroubos financeiros – nada melhor para a saúde do que uma boa dose de irresponsabilidade em aplicações homeopáticas: fazer toda semana algo ótimo que possa resultar em consequências péssimas. Recomendo.
A questão nem é essa. É a falta de foco. É quando a falta de objetividade faz a pessoa negociar a própria felicidade por outra coisa, trocar seus dias por outro benefício qualquer. É selar um contrato de risco com o único cidadão que não aceita contratos, não faz trocas e nem sabe negociar: o tempo. Ninguém ensinou contabilidade para este cara.
Não importa o quanto a nossa vida esteja sendo dura: a Síndrome do Eu Mereço só acontece quando a gente perde o foco. E deixa de enumerar o que é importante, quem é importante e qual o degrau de importância de cada coisa. Atualmente, tarefa difícil para quem é geminiano, tem poucos recursos e muitas decisões a tomar. E não pode colocar prioridades no fim da fila. Não pode selar tratados com o tempo. Quando o sócio não é de confiança, o jeito é ficar de olho aberto. A gente nunca sabe quando ele pode encerrar o contrato.
Amei o texto neguinha. Agora essa pessoa poderá te vsitar masi vezes por que “nós merecemos” Bejinho.
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Amiga!!!
Esse texto é a sua cara…rsrs
Amei…deu até p matar a saudade dos seus conselhos de fim de dia…q falta vc me faz…sujeita apareça na net!!!rsrs
Se cuida!
Bj!!
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Mari, adoro ler seus textos.
É como se eu ouvisse vc falando.
Saudades.
Bjs
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Mari, adoro ler seus textos.
É como se eu ouvisse vc fando.
Saudades.
Bjs
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Um abraço apertado para você, simplesmente porque a gente abre a página e lê o que precisava naquele dia!!
Bom fim de semana!
P.S. Longe de mim chamar você de “Minutos de Sabedoria”!
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Muito bom ! Dessa vez não tinha como deixar de comentar !!!
A parte que mais gostei:
“Daí o contrato se encerrou e me liga ele lamentando os dois anos desperdiçados num lugar que ele não gostava, fazendo o que não gostava, com pessoas que ele não gostava. Pois é, o tempo não volta. E o fato dele estar me ligando de um celular caríssimo, convenhamos, não muda nada neste contexto.”
Um abração !
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