– Professor, há como indicar uma bibliografia para este assunto dado?
– Sim meu caro, mas, infelizmente, apenas em idioma estrangeiro. Há problema?
– Não.
– O rapaz prefere em francês, italiano ou alemão?
– Tanto faz.
Diálogos como estes no fim da aula me dão a medida exata do abismo intelectual entre eu e os meus colegas. E me fazem crer fervorosamente que as minhas boas notas devem-se a mais autêntica evidência da generosidade divina. Amém.
Como prova de uma fé inabalável no poder do milagre, este semestre a mobral aqui matriculou-se em dois cursos, ou seja, pega mais matérias do que qualquer aluno normal. É que uma pessoa andava sem muitos problemas na vida e resolveu encomendá-los em atacado. Metade das matérias são em Jornalismo, metade em Edição de Texto – em edição de quê? – Edição de Texto, aquele curso direcionado a quem não foi cético-capitalista o suficiente pra cursar Publicidade, nem hippie-romântico o suficiente pra cursar Artes. Pra quem quer ser editor – aquele cara que recebe pilhas de material artístico todo dia, lê, analisa, separa o joio do trigo e publica o joio.
Hoje foi o segundo dia de aula. Curioso estudar numa classe limítrofe. Notei que meus colegas, além dos óculos de acetato e do casaco Adidas, possuem outra coisa em comum: um projeto na gaveta. Um projeto de filme, de livro, de exposição, de bomba nitrogenada, de qualquer coisa que continua lá, na eminência. Se esses projetos tivessem sido tirados da gaveta para a vida real, esses alunos estariam cursando Cinema, Literatura, Artes. Se tivessem sido tirados da gaveta para o lixo, estariam cursando Direito, Engenharia, Medicina. Mas se a pessoa insiste em deixar um projeto na gaveta, não tem jeito: é colocar os óculos, vestir o casaco e fazer uma matricula lá.
Quando sobrar uma vaga.
Adorei muito!!!
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