Se existe uma coisa em comum entre minha avó paterna e eu é o fato de sermos impulsivas, passionais, mas facilmente distraíveis. Tipo: ela pode estar arrasada, na fossa, na pior, em prantos cataclíticos, daí toca o telefone – alô? – pronto, já esqueceu. Eu posso estar enfurecida, fora de mim, pronta para esganar, matar, destruir, com instintos assassinos XXL – mas, menina, que gravata feia é essa do Lula? – pronto, passou. Ela sempre foi assim, eu sempre fui assim e acho que só não temos casos de homicídio na família graças a isso.
O fato é que, estes dias, fui vítima de um roubo. Eu estava entrando num bonde quando um gajo resolveu pegar a carteira do meu bolso e sair correndo. Ninguém merece. Mesmo. É que já passei por sequestro em Salvador, apedrejamento no Rio, golpe em Barcelona, furto em Viena e tudo o que me acontece reforça a minha teoria de que, basta eu pisar numa cidade, para o alerta marginal circular: OTÁRIA NA ÁREA, OTÁRIA NA ÁREA, FAÇAM FILA, UM DE CADA VEZ!!! Pulo do bonde atrás do ladrão ladeira abaixo xingando o cara de todos os nomes, gente na rua, confusão, ele na frente, eu atrás, ele correndo, eu morrendo, vergonhosamente ofegante, até abdicar de vez do troféu São Silvestre e ir logo para o banco pra cancelar os cartões. É que minha larga experiência no assunto me diz que essas coisas devem ser feitas com urgência: ligo para o Brasil pra cancelar mais cartões, ligo para o Sef para cancelar os documentos, ligo para a escolta para procurar o safado, ligo pra minha mãe pra reclamar da vida, ligo para a Carris pra cancelar o meu passe, saio correndo em direção à delegacia para prestar queixa formal e, no meio do caminho… paro para olhar as vitrines. Sério. Viaturas em busca, gente de plantão, o mundo se acabando e eu entretida com uma vitrine!!! Por que eu faço isso? Nao sei. Condicionamento genético, suponho.
Enfim, chego à delegacia – Boa tarde, eu gostaria de prestar queixa de um roubo – Hum? – Queixa de um roubo – três policiais se aproximam, depois mais outro, depois uns curiosos e eu lá, posando de animal exótico. E eles – Um roubo? Como aconteceu isso? Aceita um copo d’água com açúcar? – Não entendi nada. Acho que, na minha costumeira delegacia da Avenida Sete, para alguém me oferecer um copo d’água com aquela cara de espanto eu teria que ir lá prestar queixa por ter sido abduzida por ET’s. Passei a tarde inteira repetindo o que aconteceu, dizendo que eu estava bem e imaginando o por quê daquela comoção toda, já que em Lisboa deve haver assaltos – talvez não naquele bairro, talvez não àquela hora, talvez não em datas ímpares, sei lá – e acho que não me liberaram logo por uma questão de entretenimento, enquanto eu continuava sentada no banquinho do Forrest Gump contando a minha história para sempre. Fui liberada já de noite, com livrinhos de telefones de emergência, conselhos e recomendações à família, quando o meu telefone toca – Olá, amiga, como você tá? – Tô ótima! – O que fez hoje? – Nada, e você? – Nada também – e saio falando sobre qualquer banalidade. Eu sei que é absurdo, eu sei que é loucura, mas quem sou eu pra contrariar a genética humana?? Ninguém, cara, ninguém…
o bom da vida é ser assim.
é por isso que TEAMO por sr assim,bjssss
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kkkkkkkkkkkkkkkkk
Assim q é bom amiga…uma hora uma fúria em seguida um sorriso. Amei o texto…como sempre hilário.
Estou c saudades. Q fazer o favor de entrar na net p matar as saudades de sua amiga mais doida???
Bjs!!
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