O momento mais triste do meu dia é acordar às 5 da manhã para trabalhar. Sempre imagino o Chacrinha aparecendo no meu quarto num daqueles jogos de auditório onde o cara fica num aquário de isolamento acústico e o apresentador dispara parguntas absurdas – você trocaria todo o seu dinheiro por mais uma hora de sono? Simmm!!! Você trocaria a sua hora de sono por um cruzeiro na Grécia? Nãoooo!!! Você trocaria uma viagem, um carro, uma casa, uma barra de ouro e um chiclete Bigbig pra continuar dormindo a manhã inteira??? SIMMMMMMM!!! – bem alto. Mesmo que o isolamento acústico não fizesse parte da brincadeira.
Mas o Chacrinha nunca me apareceu e a distribuição de jornais no semáforo começa cedo. Chego eu, depois o pessoal do meu jornal, depois o pessoal do jornal Destak, do jornal Global, a galera dos bombeiros voluntários e, por fim, o sr. Antônio, o pedinte mais popular do mundo. Trata-se de um trabalho que, definitivamente, não é entediante: são 3 minutos de sinal aberto, 2 de sinal fechado e um dia inteiro de pessoas loucas transitando. Eu e meus coleguinhas prediletos (o brasileiro, o sueco, a portuguesa e o cabo-verdiano) estávamos falando sobre isso e eu resolvi fazer o top of crazy do nosso semáforo. Nossos tipos de motoristas cativos são:
O Chato – Esse jornal está amassado.
O Analfabeto – Qual é a manchete de hoje?
O Religioso – Bom dia, minha filha, que Jesus te abençoe, ilumine seu dia, te proteja das motocicletas, da chuva, dos carros, que o anjo da guarda guie o seu caminho e obrigada pelo jornal, fique com Deus.
O Cego – Bem, a gente trabalha fardado: uma camisa com o nome do jornal, um colete com o nome do jornal, um boné com o nome do jornal e, como se não fosse o bastante, uma placa de acrilico amarrada nas costas que faz um grande círculo acima das nossas cabeças com o nome do jornal. Mas vai ter sempre um motorista cego pra perguntar – que jornal você tem?
O Guloso – Estudantes que colocam o tronco para fora da janela do carro em alta velocidade, pontam para o círculo de acrílico em cima das nossas cabeças e gritam: PIRULITOOOOO!!!
O Solidário – Hoje eu vou levar dois jornais pra você poder voltar mais cedo pra casa.
O Leitor – Ele precisa muito de um jornal. Muito. O sinal mal fechou e ele já está no final da fila de carros buzinando e pedindo e gritando – aquiiii, por favoooor, um jornaaaal, por favoooor!
O Pára-Motô – Caminhões com caçamba aberta. Sempre um ferro gruda na placa de acrílico e, quando o sinal abre, arrasta um de nós pendurado pelas costas, preso, desesperado, até um colega correr atrás e gritar para o motorista: pára motô, pára motô!!!
O Curioso – Qual é o seu nome?
O expediente termina, a pessoa troca de farda, sobe no salto e vai para o turno de promotora no shopping, um ambiente tão ou mais propício à aparições inusitadas, eu poderia passar o dia inteiro aqui fazendo uma lista de PESSOAS LOUCAS QUE SURGEM. Fim da noite, os meninos sentados na calçada resenhando as melhores. Outro top of crazy. A gente ganha pouco, mas se diverte.
Peixe,
adorei a nova fase do blog. esse post então nem se fala. Já deixou seu currículo na embaixada brasileira e nos classificados do aeroporto? Nós, turistas, precisamos de vc para nos acompanhar!!
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