Imparcialidade é um dom dos amigos. Escreva isso, memorize, tatue no braço. Toda vez em que você – indivíduo dotado de razão, inteligência e sagacidade – estiver prestes a emitir um parecer sobre qualquer assunto – importante, desimportante, aleatório – avalie seriamente o contexto em questão. Se ele for desfavorável, não opine. Sorria, mude de assunto, comente sobre, sei lá, futebol.
Por exemplo, se você tem ou teve um papel afetivo na vida de alguém – namorada, ex, quase-futura, anywhere – presume-se que você estará sempre, em todas as situações, falando em causa própria. Se você namora, namorou, ficou, teve uma paixão platônica, piscou o olho para o cidadão na quarta série do primário, pronto, perdeu o cérebro. Desista de opinar.
Nem tente alertar o cavalheiro de que certo amigo dele não é confiável – ah, é competição – nem avisar que a colega dele está cometendo desfalques – é ciúme – nem comentar sobre o quanto aquela escolha profissional pode ser desvantajosa – isso é dependência, insegurança, medo que o cara faça sucesso, fique rico, pire na batatinha e vá morar no Ubequistão.
O mocinho nunca cogita que você – obviamente, um poço irracional de carências e emoções – esteja só e apenas tentando ajudar. Que o seu senso de observação não ficou irremediavelmente turvado pelas intempéries afetivas e que o seu único intento é oferecer uma informação útil sobre um assunto que, provavelmente, nem te interessa.
Toda vez que eu me vejo com vontade de pegar um deles pelo colarinho, aplicar umas ruidosas bolachas e entoar o mantra – DEIXE DE SER OTÁRIO, MEU FILHO – eu lamento não ser apenas uma conhecida. Entre amigos, a técnica funciona. Entre amores, fale apenas sobre futebol.
kkkkkkkkk
Isso é fato!
CurtirCurtir