(Berlim, 17 de setembro de 2011, 15 graus)
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“Para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos pra viver, loucos pra falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante – pop! – pode-se ver um brilho azul e intenso até que todos ‘aaaaaah!’. Como é mesmo que eles chamavam esses garotos da Alemanha de Goethe? (…) Por isso eu formigava inteiro, contava os minutos e subtraía os quilômetros. Bem em frente, por trás dos trigais esvoaçantes, que reluziam sob as neves distantes do Este, eu finalmente veria Denver. Imaginei-me num bar qualquer da cidade, naquela noite, com a turma inteira: aos olhos deles, eu pareceria misterioso e maltrapilho, como um profeta que cruzasse a terra inteira para trazer a palavra enigmática, e a única palavra que eu teria a dizer era: Uauuu!!! Eu estava na metade da América, meio caminho andado entre o Leste da minha juventude e o Oeste do meu futuro e é provável que tenha sido exatamente por isso que tudo se passou exatamente ali, naquele entardecer dourado e insólito. (…) Em algum lugar ao longo da estrada eu sabia que haveria visões e tudo mais. Na estrada, em algum lugar, a pérola me seria ofertada.”
(Jack Kerouac / On the road)

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