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Claire e Justine são irmãs. E Melancolia é o nome do planeta azul que, segundo evidência científicas, deve se chocar com a Terra e destruir a humanidade em poucos dias. Claire faz de tudo para evitar a catástrofe, tenta fugir, proteger a família, criar um abrigo subterrâneo, convocar as autoridades. Ela procura uma saída. Já Justine respira fundo, olha para o infinito contemplativamente e quer mais é que o mundo se exploda.
Este é o roteiro básico do longa Melancolia (2011), de Lars von Trier. Um filme-catástrofe onde não dá para esperar o óbvio – é, antes de tudo, uma catástrofe familiar mesmo. Uma metáfora sobre como cada um reage diante do inevitável. Lembrando que o apocalipse está disfarçado de planeta azul – em inglês, “to feel blue” é estar triste ou deprimido. E o Melancolia vai atingir a todos. Ninguém pode escapar.
Na cena, o astro desgovernado abre caminho entre as nuvens e a expectativa ganha tons de drama épico, por que toca Wagner num cenário fabuloso. Mas faz pensar também sobre o destino de cada um de nós, onde as tragédias chegam sem tanta apoteose – o planeta azul pode ter qualquer nome, ele é tudo o que não se pode evitar. É uma analogia sobre o vazio dessa vida curta e besta. É isso de nascer para morrer e, ridiculamente, ainda tentar se manter ocupado e útil entre uma coisa e outra.
Do ponto de vista médico, a palavra “melancolia” designa um tipo desesperança patológica. Do ponto de vista psíquico, é uma sensação de impotência generalizada. Do ponto de vista da astrologia, é a nossa nostalgia de Saturno. Do ponto de vista de Lars von Trier, é apenas uma hecatombe sobre a humanidade. Se a gente levar em conta que 350 milhões de pessoas no planeta sofrem de depressão, esta nem é uma definição assim tão dramática.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esta será a doença mais comum do planeta em 2030. Os deprimidos já representam metade dos suicidas do mundo, são 850 mil mortes por ano – há quem entregue os pontos, como Justine, só 10% procura ajuda, como Claire.
Apesar dos números apocalípticos, a tragédia anunciada por Lars von Trier não foi entendida por todos. O público achou o filme difícil, a crítica achou o roteiro confuso. Talvez seja mesmo. Cheio de subtextos, indireto, complicado – acho que as pessoas mais interessantes também o são. A verdade é que a doença em si também segue incógnita, pouco compreendida e o pior: sem cura. Tudo que temos, hoje, é esta sensação de que uma rápida epidemia cresce, de que estamos à beira de um abismo profundo. De que o planeta azul já faz sombra sobre a Terra. Numa estranha sala de espera para o fim do mundo.

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