O primeiro taxista queria conversar. Já saiu do aeroporto descrevendo os bairros da cidade, os pontos turísticos e o melhor hotdog da Avenida Paulista. Falou também sobre os perigos da Zona Oeste e, na passagem, apontou o Centro de Acolhimento dos Haitianos: “é sempre assim, vive cheio de pretos”.
O segundo taxista falou mal do Uber e da falta de água. Eu balançava a cabeça enquanto ele reclamava da Parada Gay, disse que a cidade virava um bordel de viado e ladrão, reclamou da ciclovia e me mostrou a casa da Elke Maravilha, que ainda morava no Centro e ficou velha sem casar: “acho que toda mulher tinha que ter filho, pra cuidar delas na velhice”.
O terceiro taxista fazia parte do movimento religioso Tradição, Família e Propriedade. Ele estava insatisfeito com a política. Discorreu contra nordestinos, judeus e árabes, disse que a culpa de tudo era da Dilma que estava contaminando o país com africano, boliviano, inflação e AIDS.
O quarto taxista pouco falou. Invadiu dois semáforos e avançou sobre a faixa de ciclistas: SEUS FILHOS DA PUTA, QUE VÃO PEDALAR EM CUBA!
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Naquela tarde, eu decidi que iria voltar de metrô.
Mas a estação subterrânea estava parada por causa de uma manifestação contra os episódios de abusos sexuais DENTRO DOS VAGÕES DO METRÔ. Na superfície, havia uma blitz detendo veículos que desobedeceram o RODÍZIO DE PLACAS, os motoboys gritavam “a gente precisa trabalhar!” e alguém começou uma briga. Decidi acenar para o quinto taxista:
– Para a Paulista, senhora?
– Sim.
– Está tudo engarrafado, senhora, um absurdo. Só tem vagabundo, sabe o que eu acho?…
E é isso. Ando ponderando muito sobre as previsões apocalípticas feitas em Calamidade Pública. Penso em Blade Runner, em Ensaio sobre a Cegueira. Não está sendo fácil, São Paulo.

Preconceito, caos, falta de educação, crise etc etc….explode logo essa joça chamada Brasil.
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