Continuando.
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– Olha, a moça dos móveis ligou perguntando o que a senhora vai fazer em relação ao aluguel dos castiçais do evento.
– Os castiçais estão pagos.
– É. Mas estão sem velas.
– Não vem junto?
– E não são velas de mercado, tem que encomendar na fábrica e ir buscar lá, daquelas que duram 8h acesas. São dez por candelabro.
– Não dá para desistir dos candelabros?
– E é bom comprar um gel contra queimaduras. Algum convidado curioso pode mexer e causar um acidente.
Fiz a encomenda das velas e mandei o motoboy ir buscar. A dona da fábrica não fez a entrega e expulsou o boy a vassouradas por que ele usava um colar de Candomblé. Fui na fábrica carregar pessoalmente as caixas da linha de produção até o carro e decidi não comprar o gel contra queimaduras, afinal não sou mãe de ninguém e cada um que administre a sua curiosidade. Passei a noite encaixotando as velas em volumes com etiquetas, de acordo com cor e tamanho, para cada mesa e tipo de candelabro, e concluí que, com o dinheiro que eu havia gasto naquela idiotice, dava para ter comprado uma lente 50mm da Canon ou um fim de semana na praia. Encaminhei as caixas com antecedência para o salão junto com um checklist e os contatos da fábrica e até coloquei uns telefones de emergência médica para o caso de algum aloprado resolver mesmo incendiar-se e tornar a festa mais animada. O motoboy ligou aos gritos dizendo que ia processar a dona da fábrica. A dona da fábrica ligou aos gritos dizendo que o boy ameaçou processá-la. A mulher dos móveis ligou e eu fiquei aflita olhando para o celular esperando a hora da morte, mas ela somente queria avisar que havia recebido as caixas e que estava tudo bem. Segui para o escritório com o objetivo de recobrar a dignidade. Me dei ao luxo de trabalhar um pouco. O dia acabou. Voltamos todos vivos para casa.
Hoje, olhando as fotos do evento, observo que nenhuma foi acesa. O cerimonial esqueceu as velas apagadas.