1º lugar no Concurso de Crônicas F2J
Algumas verdades me encantam mais que outras. Aqui, lendo uma pilha de revistas de recepção de consultório médico – que devem estar aqui desde a formatura do senil doutor em questão – encontrei-me diante dos escritos de ninguém menos que Luís Fernando Veríssimo. Sim, não é de hoje que esse homem das letras publica-se por aí. Entre notícias, descobertas e previsões econômicas feitas a cinco ou dez anos atrás, pergunto-me quais daquelas matérias realmente fez diferença na vida das pessoas. Sem querer, folheio outra crônica dele. Outro parêntese lúdico, desta vez entre a divulgação do Plano Real e de uma guerra no Oriente Médio. Meu Deus, aquele texto era uma ilha, um oásis.
Não falo de apologia à alienação. Falo de leveza. Falo da roupagem trágica que damos aos fatos – sejam eles de ordem pública ou privada. E desse oxigênio que nos salva quando o caos parece submergir o mundo. Das horas sufocantes que se arrastam quando as pessoas são intransigentes, os computadores não fazem <i>backup<i> automático e os <i>shoppings<i> não têm vagas de estacionamento. Dos dias em que você gostaria de não estar lá. Destas horas em que você se dá conta de que a terra está girando o tempo todo e isso te causa náuseas. É preciso respirar fundo, ter paciência. Se tolerar a fumaça de cigarro do cidadão ao lado for mesmo impossível, você pode reservar um túmulo na ala dos não-fumantes. Ou pode tirar o crachá de chato e assumir outro papel – por puro instinto de sobrevivência.
“Muitas vezes o que nos salva não é nem mesmo o amor. É o humor”, revela Veríssimo, encabeçando o time dos que, já que não podem tornar o fardo mais leve, o tornam colorido. E eu, no limite da exaustão, aguardando que um médico gástrico cure todos os males causados pelo stress dos meus dias, encontro um bálsamo bem aqui, na sala de espera. Encontro alguém pra me lembrar de não levar a vida tão a sério, já que o número de pessoas presentes no meu velório vai depender muito mais da meteorologia do dia fatídico do que dos meus êxitos ou fracassos sobre a terra.
E aí a gente se depara com um texto desses e ri um pouco de si mesmo. E se recosta na cadeira, folga o nó da gravata e segue um pouco mais leve. Um pouco mais brando. Até que o próximo sinal de trânsito se feche. Até que o amor decepcione ou caia catchup na camisa para que a gente volte ao nosso flagelo costumeiro. Outra vez.
Por que, Veríssimo? Por que prescrever a alegria das coisas simples quando a maioria opta voluntariamente pelo pessimismo? Se a gente prefere lotar os consultórios e acreditar que a fórmula do bem-estar está mesmo nas farmácias, por que ainda falar de bom-humor e esperança?
Os anos passam e você insiste em suas crônicas. Em seus convites ao bom humor. Talvez porque já inventaram remédio pra tudo, menos pra teimosia.
Nem para nossa, nem para sua.
[…] (este texto gahou o terceiro lugar no concurso de crônica jornalística da F2J) Veja também o 1° e o 2° lugar Meiryelle […]
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Ai, ai, ai… essas verdades. As verdades, na verdade, são um punhal.
Vamos lá amiga! estilhaçar os lugares comuns.
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[…] aqui os textos da 1ª e 3ª colocadas. Publicado […]
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O que é o que é! Pela manhã anda de quatro pés; pela tarde de dois e pela noite de três. Se acertar ganha um bombom.
Só para ver se esse blog funciona
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