Ele tinha momentos eventuais de silêncio que tornavam sua conversa um prazer. Não que sua atenção se perdesse num ponto qualquer ou ensimesmasse em introspecção – não era um homem de fugas. Quando falava sobre determinado assunto, desmanchava-se em adjetivos até não lhe sobrar nenhum, para, então, deixar-se estar reticente, como se o discurso continuasse em cavalgada própria, sem as suas palavras.
– As casas de Lisboa são sabiamente firmes, de uma engenharia robusta, altiva, arrojada… – silenciava fixo nela, libertando o subtexto para prosseguir mudo, paralelo, infinito. Como se seus olhos, então, pudessem guiá-la pelas muralhas seculares da cidade, pelas escadarias sinuosas esmaltadas com óleo de baleia, pelas ruas místicas e ruidosas ou por tantos outros pormenores que não seriam compreendidos pela cognição. Até onde iriam? Não há centímetro no mundo que não seja interessante – concluía.
Ele que, por ironia, nunca havia saído da terra onde nasceu, oferecia a ela o que não possuía: as lembranças de suas viagens futuras que, de fato, talvez nunca chegassem a atravessar a rua. Sem saber, entregava o mapa de um tesouro difícil, uma beleza que ela não reconheceria em lugar nenhum. Mas o roteiro já estava traçado. E ela cruzaria trópicos, continentes e oceanos, percorreria ilhas, campos e metrópoles, mas lugar nenhum lhe bastaria e ela sabia disso. Por que ouvi-lo falar de Lisboa era melhor do que Lisboa. Por que o mundo era ainda mais belo pelos olhos dele.
Lisboa
janeiro 21, 2008 por marianamiranda
Mari, Mari, Mari…
Certas vezes, a idéia que fazemos de algo, de alguém ou de algum lugar pode, verdadeiramente, nos agradar mais que a realidade.
Eu sei disso… por isso procuro manter uma certa distância das pessoas: para que elas continuem sendo ma-ra-vi-lho-sas.
Beijos.
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Oi Mariana! Menina, adorei esse texto. Muito bom mesmo.
Não sei se a Cacau o mandou para mim porque mandaria de qualquer jeito, mas eu realmente achei que ele tinha seus pontos de encontro com o post que eu escrevi. Vamos ver o que você acha.
🙂
Beijim e abração.
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Ah! Mandei seu texto para a Amarílis. Obviamente com indicação de autoria e endereço do blog. Beijo
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Texto de uma amiga chamada Ágatha (http://cotidianodascidades.blogspot.com/)
Ele chegou e disse enérgico: É hoje. Já pensei em tudo.
_O quê? Hoje!?
_É.
_Mas… você pensou bem?
_Pensei em tudo.
_Mesmo?
_Em tudo, cara! Pensei em tudo! Não há nada que possa acontecer que eu não tenha pensado.
_Se der errado?
O resoluto sorriu desdenhoso. _Ora, meu caro, pode dar errado, pode dar certo. Não me importa mais. Qualquer coisa que acontecer eu já pensei, e nada poderá me surpreender.
Impressionado com tamanha certeza, o amigo deu de ombros. _Que seja!
Pouco mais tarde, ele chegou e disse de uma vez:
_Mariana, estou apaixonado por você.
E ela não fez cara de surpresa ou espanto, não achou ruim, não fez cara de quem já sabia, não achou estranho, não pôs a mão no coração e achou lindo, não disse oh, não me diga, não saiu correndo, não disse que já tinha outro, vamos ser amigos e nem caiu em seus braços dizendo que seria sua pra sempre. Ela sorriu.
Sorriu!
De uma maneira tão nova, tão pura e bela que fez as pernas dele tremerem.
Sem saber o que dizia, ele falou: _Na verdade, eu te amo.
E isso ele não tinha pensado.
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Mariana, você está se superando.
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Sou teu fã!! Teremos livro? E o discutiremos em um café, aí pelo Brasil, em Lisboa, Paris, ou do outro lado do oceano!
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Brindemos aos caminhos não percorridos, as viagens não viajadas, ao adocicado sabor do vinho do Porto…
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