Sempre desencontravam. Era ela entrar numa festa para ficar sabendo: ele acabou de sair e havia perguntado por ela. Era combinarem um encontro para que um, cansado de esperar, fosse embora um minuto antes do outro chegar atrasado, esbaforido. Um telefone chamava, ninguém atendia. O outro telefone chamava e a linha estava ocupada. Os acasos não favoreciam – nenhuma fila de banco em comum, nenhuma coincidência de esquinas, nenhum encontro banal pela rua. Só havia a vontade. E ela não bastava.
Até que foram desistindo. Um por cansaço, outro por desesperança. Desesperança pelo gran finale que não veio. Cansaço por que descontruir o próprio castelo todos os dias dá um trabalho danado mesmo. Derrotados pelo acaso. É, a vida é uma piada sem graça, às vezes.
Janeiros passaram-se. Ela trocou de emprego, ele adotou um cão. Ele filiou-se a um partido político, ela conheceu a Grécia, ele aprendeu a tocar gaita, ela quase bateu o carro. Ambos mudaram um pouco, músicas novas já eram cantaroladas com intimidade e quem os conhecia não encontraria neles nenhum traço de melancolia no olhar distraído. Só um pouco de dispersão mesmo.
E, um dia, numa manhã de muita chuva, entraram na mesma loja de conveniências, ensopados. Em frente ao freezer de sorvete, ao lado do expositor de revistas, lá estavam eles, enfim. Em cumprimentos atabalhoados, os dois riram-se muito – pois é, quanto tempo! – e havia tanto o que dizer. Nem sabiam por onde começar. Ou recomeçar.
Mas, exatamente naquela manhã, por algum motivo, ele trazia um buquê de flores na mão. E, exatamente naquela manhã, por algum motivo, ela protegia-se da chuva com um paletó masculino sobre a cabeça. Baixaram os olhos, resignados. Fazia muito tempo mesmo.
A despedida foi breve, sem graça, com uma promessa vaga de reencontro qualquer dia desses, qualquer dia desses. Partiram sob a chuva mesmo. E, se aquelas flores eram para alguma homenagem na firma ou se aquele paletó era do manobrista do estacionamento, já não fazia sentido pensar no assunto, fazia tanto tempo. A cidade é grande o suficiente para que duas pessoas se percam para sempre, pensaram – um por cansaço, outro por desesperança. Janeiros passaram-se. E, agora, quem os conhecia encontraria neles algum traço de melancolia no olhar distraído. E cada vez mais disperso.
Ai que lindo!
Aí eu venho aqui comentar e ainda descubro que na próxima encarnação serei pedida em casamento! Eba!
;-D
bj
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ADOREIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!
Afffff!
Diz muito sobre os desencontro das nossas vidinhas!
Seria acaso?
Será que podemos dar uma forcinha ao acaso?
Ou estará tudo jé escrito e descrito em um livro cujo título é o nome de cada um?
A resposta eu não sei, mas espero pelas filas do banco ou que ele ainda esteja na festa quando eu chegar, ainda sem cansaço ou desesperança…
bjos
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Mariri
Amei demais seu texto é impressionante ver como vc se tornou essa escritora
fantástica, começei a ver um livro seu publicado, que vc é linda, senssível e
tudo de bom eu já sabia, agora essa escritora maravilhosa me surpreendeu.
Te amo … te admiro
bjs
Tânia
Cadê Casablanca????
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Eu não me lembro se eu comentei, mas lá no fundo, não gostei do texto anterior, o “Engano”. Tecnicamente perfeito, mas com alguma coisa no tema que não me atraiu.
Mas daí você aparece com o magnífico Quase-Casablanca, “Play it Again”, e daí eu descubro que você pode esbanjar o que exatamente faltou no último: a perfeição da construção do motivo. Motivo de rir, motivo de chorar. Motivo até para um olhar disperso.
Se na próxima encarnação Buda finalmente atender meu pedido e me tornar bissexual ao invés de hetero, vou pedir para casar com a Mariana e com a Amarílis (risos).
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