Na Internet eu poderia acessar o msn, o blog, o orkut, o twitter, o google e acho que não deve haver coisa mais ultrapassada no mundo virtual que passar 80% do meu tempo on-line lendo e respondendo e-mail: o primo mais novo das neolíticas cartas de correio. Mas é isso que sempre acontece e, no fundo, é o que eu mais gosto de fazer na Internet. Principalmente depois que o povo passou a me escrever pedindo, digamos, opiniões sobre as coisas. Conselhos sobre a vida prática, financeira, profissional, mas, especialmente, sobre a vida afetiva. E você deve estar se perguntando: como alguém com uma vida afetiva absolutamente instável pode estar apta a dar orientações deste grau a quem quer que seja? A resposta é: não está. Sinceramente, acho que os amigos que me escrevem não estão esperando de mim um conselho sábio. Sabe reunião do AA onde todo mundo se coloca em círculo contando seus problemas, onde você pratica esta mera função fática da linguagem para se sentir integrado a um grupo de pessoas tão ou mais perdidas que você? Então, é isso.
Sendo assim, nunca me senti na obrigação de dar opiniões compromissadas com a sabedoria – em outras palavras, eu costumo ser bem sincera. E essa assessoria sentimental, apesar de já ser de conhecimento de vocês, fez parte de uma esfera privada da minha rotina até que, ontem, eu estava estudando para a tese e descobri que a Clarice Lispector começou a carreira dela escrevendo para colunas de (contos? crônicas? epopéias?) aconselhamento. Sério! Pronto, perdi completamente o pudor pelo assunto. Literatura-passional-e-brega-de-auto-ajuda é o futuro! Paulo Coelho está rico, Augusto Cury está rico, eu estou pobre e este post de hoje terá o resumo dos e-mails de resposta da semana. Nomes e detalhes serão omitidos para evitar a fadiga e, se o seu problema ainda não se resolveu, pode trazer o banquinho e continuar contando o seu dilema que a tia mari vai te ajudar. Quanto ao respeitável público de dez pessoas que acompanham esse blog, bem, senta que lá vem a história.
Caso 01 – Meu caro colega, deixa ver se eu entendi o seu e-mail: ela é bem-humorada, bom papo, atraente, está interessada em você e te chamou pra sair. Você está se dando ao trabalho de me escrever pra perguntar o que mesmo, filho?
Caso 02 – Sobre esse episódio, eu vou ser sincera: toda vez que te vejo contando sobre suas brigas com sua ex me lembro de um texto que li uma vez comentando um capítulo de Seinfeld: a amizade entre dois ex-namorados é um encontro entre dois mágicos que tentam entreter um ao outro. Ela já conhece os seus truques e não vai cair neles, você já conhece os truques dela e não vai cair neles. Ou não deveria, né? O problema de conversar com uma pessoa que te conhece muito bem é que não dá pra maquiar nada: quando você conta uma história é natural que acabe omitindo alguma coisa, não porque quer camuflar de propósito, mas porque quer muito a aprovação do seu interlocutor. Mas tem gente que te conhece bem demais pra não perceber isso. Daí você me diz que ela gritou com você e eu pergunto: enquanto ela gritava você fazia oque? Ioga? Pense bem. Ex- namorados, mães e dicionários: você pode brigar, espernear, discordar de tudo o que eles dizem, mas, no fundo, sabe que eles estão corretos.
Caso 03 – Pois bem, você está solteira. Com a intenção de te conhecer melhor, um moço bem intencionado te convidou pra jantar. Vocês foram para um restaurante ótimo que ele conhecia, quando vocês chegaram ele escolheu uma mesa pra vocês, ele chamou o garçom, ele pediu o cardápio, ele sugeriu uma bebida e, pior, foi ele quem experimentou o vinho antes de autorizar o garçom a servir as taças. Depois ele puxou um assunto qualquer enquanto você continuava com a bolsa no colo, calada, sorrindo, com cara de Hello Kitty. Eu sei, eu sei, ninguém merece. E também sei que este jantar só teria sido sucesso de público e de crítica se o homem do outro lado da mesa fosse o seu pai e você tivesse, sei lá, 9 anos de idade, mas, acredite, os homens machistas realmente acreditam que estão sendo… cavalheiros. Ah! Concordo que você não deve perder tempo com ele, mas, se possível, dispense com carinho. Dê um abraço, agradeça pelo jantar, diga que foi tudo ótimo, peça pra ele deixar a porta aberta quando for saindo e daí você chama: o próximooooooo!!!
Caso 04 – Sobre a palestra no congresso de odontologia, eu também não sei por que isso deu tão certo, mas certamente tem haver com o fato de que os rapazes adoram uma especialista. Não importa o assunto, deve ser o eterno fetiche pela professora, se você souber ensinar a um homem tudo sobre, sei lá, o fenômeno da piracema, está feita. Antes de você chegar na parte dos peixinhos alcançarem a foz, a figura já pediu seu telefone, endereço e o número do sapatinho de cristal. Detalhe: eu fiz duas graduações e nunca viajei num congresso acadêmico, ah! Eu me odeio. Mas a dica é essa: se especialize. Não importa sobre qual seja a banalidade, se especialize.
Caso 05 – Amigo, sobre a moça que você falou, cliquei no link, dei uma olhada no orkut dela e, apesar de vocês serem colegas de trabalho e tal, eu achei o perfil um pouco… hum… “migucha”. A diferença entre uma mulher e uma migucha é que a primeira sabe o que quer e a segunda é mais bobinha, tipo, que não consegue largar as amiguchas, que tem álbum com mil fotos com grupos enormes, sempre sorrindo, sempre festejando, enfim, essas coisas que são normais aos 15. Fora as comunidades, essa mania retardada de amar todas as coisas coletiva e incondicionalmente, “eu amo viajar”, “eu amo música”, “eu amo praia”, meu Deus, mas que praia? Que horas? Com quem? Tenha medo. O que salvou tudo foi aquela descrição do quem sou eu: comparar a própria rotina aos capítulos da obra de Salinger foi genial. Mande pra mim outros links, vou precisar de mais material de pesquisa antes de emitir uma opinião melhor sobre a candidata.
Caso 06 – Minha sugestão sobre aquele rapaz lindo e loiro que te dispensou antes do Carnaval e agora que voltar? Que besteira, menina, volte. O amor é lindo. Por que guardar rancor se você pode começar de novo e fazer as coisas de uma maneira, tipo assim, diferente? Meu conselho é o mesmo da semana passada:

(tradução: mantenha a calma e seja uma puta)
Se você também tem dilemas, dúvidas, críticas, sugestões, ameaças, escreva para maripublic@yahoo.com.br contando a sua história ou mande a sua cartinha para a rua Carlos Ramos, n.13, ap. 2c, Quinta do Morgado, Olivais Norte, 1800-052, Lisboa. Hoje ficamos por aqui, foi um prazer estar com vocês, tenham uma ótima semana, fiquem agora com a nossa programação musical, uma boa noite a todos e até mais.
Para ouvir:
O que é isso mesmo????!!!!
Terapeuta???
Ainda mais essa…hum!!!!
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Caraca!! Aja talento pra uma criatura só!! Parabéns colega!!!
Já anotei seu email aqui… hehehe
Me aguarde!!
abraços
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Querida Mariana!! Ri muito com o teu texto…aqui, no calor do MT, nas horas vagas nós fazemos um bico de conselheiros amorosos e espirituais!
faço vezes de MSN, chat do gmail, skype, uns com muito gosto outros com certo desgosto, mas ajudo!
Um dia eu quero ser que nem você!! Mas como escreve bem essa menina!!
Continuo divulgando seu blog e o número de admiradores só aumenta!!
Bjs
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Mari eu já te disse que você é ótima, né?
Ah tá!
As 16:57h da segunda você me faz rir muito, esquecer esse frio glacial do escritório e rir muito. Vou pra casa feliz!
Lúcio (lembra dele?) leu o post da chuva de granizo e viciou!!
Você é ótima! Já te falei, né?!
Beijão!
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Sim…a próposito q cabeçalho “roqueiro” é esse???rsrsrsrsrs
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Divertidíssimoooooooooooo o texto amiga!!!
Tb quero conselhos…no meu caso a coisa é crítica…vai preparando umas 10 laudas com diversas váriaveis. Acho q tb irá precisar de aulas de psiquiatria…rsrsrs…com direito a receituário…kkkkkkkkkkk
Bjs!!
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