“Obtinha os mais belos pedaços de alcatra, de pernil de vaca e de mocotó de vitela, tal como Michelangelo quando passava oito meses nas montanhas de Carrara para escolher os blocos de mármore mais perfeitos para o monumento de Júlio II.” (Pág. 40)
“Tinha o maior escrúpulo de que todas as minhas palavras fossem o mais sincero equivalente possível do que havia sentido e que jamais tentara formular. O que significava que minhas palavras não tinham qualquer clareza.” (Pág. 48)
“Entre dois adversários, a vitória será daquele que sabe sofrer um quarto de hora a mais, diriam os japoneses.” (Pág. 59)
“Digamos que o seu desejo mais ardente seja o de humilhar o homem que o ofendeu. Porém, se você nunca mais ouve falar nele, caso ele tenha se mudado para outras terras, seu inimigo acabará por não ter mais nenhuma importância para você. Se perdemos de vista, durante vinte anos, todas as pessoas por causa de quem gostaríamos de entrar para o Jockey ou para o Instituto, a perspectiva de sermos membros de alguma destas instituições já não nos tentará de modo algum. Tanto um retiro, como uma doença, uma conversão religiosa, uma ligação prolongada substituem as imagens antigas por outras novas.” (Pág. 67)
“É sempre devido a um estado de espírito que não está destinado a durar muito que tomamos resoluções definitivas.” (Pág. 188)
“Quanto às mulheres que não nos amam, como no caso dos ‘desaparecidos’, saber que não há mais nada a esperar não nos impede de continuar a esperar. A gente vive à espreita, à escuta. Mães cujos filhos partiram para o mar para uma expedição perigosa imaginam, a todo instante, mesmo depois de terem certeza de que morreram, que eles vão entrar em casa, miraculosamente salvos e bem de saúde.” (Pág. 201)
“Eu era como um pobre que mistura menos lágrimas a seu pão seco se diz a si mesmo que dali a pouco um estranho vai lhe deixar toda a sua fortuna. Para tornar a realidade suportável, somos todos obrigados a alimentar pequenas loucuras dentro de nós.” (Pág. 202)
“Não somos exigentes, nem bons juízes, acerca das coisas que não nos interessam.” (Pág. 243)
“Fazemo-nos moralistas quando somos infelizes.” (Pág. 244)
“Eu ainda era muito jovem e sensível para ter renunciado ao prazer de agradar às pessoas.” (Pág. 293)
“A fotografia ganha um pouco da dignidade que lhe falta quando deixa de ser a reprodução da realidade e nos mostra coisas que já não existem.” (Pág. 393)
“Podemos ter inclinação por uma pessoa. Mas, para desencadear esta tristeza, este sentimento do irreparável, estas angústias que preparam o amor, é necessário – e é talvez isso, e não uma pessoa, o próprio objeto que a paixão deseja ansiosamente estreitar – o risco de uma impossibilidade.” (Pág. 466)
“Há uma separação entre o sonho e a vida tão frequentemente útil de se fazer que me pergunto se não se deveria, haja o que houver, praticá-la preventivamente, como certos cirurgiões dizem que é necessário extirpar o apêndice de todas as crianças para evitar a possibilidade de uma futura apendicite.” (Pág. 478)
“Não existe homem, por mais sábio que seja – disse-me – que não tenha, em certa época de sua juventude, pronunciado palavras ou até levado uma vida cuja recordação lhe seja desagradável e que ele desejasse ver abolidas. Mas não deve lamentá-la de todo, pois não pode estar seguro de ter se tornado um sábio, na medida em que isso é possível, sem passar por todas as encarnações ridículas ou odiosas que devem precedê-la.” (Pág. 501)
“As coisas de quem mais a gente procura fugir são as que chegam sem que possamos evitá-las.” (Pág. 570)
(Marcel Proust / Em Busca do Tempo Perdido II: à sombra das moças em flor)
Deixe um comentário