Minha geração anda pagando caro por objetos retrô. Uma cadeira Eiffel vale mais do que uma cadeira moderna, uma poltrona Charles & Ray Eams custa o dobro de outras mais confortáveis. A primeira edição de uma revista, um vídeo-game Atari, uma máquina de escrever de ferro: nenhuma relíquia é fácil. A prova maior desta relação irracional é a tolerância aos defeitos destas antiguidades – as formas desproporcionais da geladeira vintage ganham status de charme e até o chiado típico dos discos de vinil vira um benefício. Na contramão do consumismo, a busca pelos objetos “insubstituíveis” é trabalhosa. E eu entendo. Memória afetiva é isso. As pessoas pagam caro para resgatar qualquer testemunha da sua própria história.
Minha geração também anda pagando caro por pessoas retrô. Reaver laços antigos torna-se difícil quando há tantas novas opções que parecem mais fáceis e adequadas às necessidades de agora. E mais acessíveis também. Dá trabalho descer aos sebos empoeirados, garimpar porões que a gente nem sabia que ainda existiam. Procurar a edição original de um romance, colar fotografias, reencontrar velhos defeitos que, agora, parecem até benefícios. Só por que são únicos. Mas tanto esforço para colocar aquela máquina antiga para funcionar vale a pena? O afinco de restaurar tanta velharia é um bom negócio?
As vitrines seguem frescas, fáceis, disponíveis. E esse fetichismo pelos complicados corredores de antiquário denuncia qualquer coisa que eu não sei explicar.
Minha geração anda pagando caro pelo luxo singelo de ter uma história em comum. Seja com pessoas ou com poltronas. Nenhuma relíquia é fácil.
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