
Posts Tagged ‘eleições’
Ano novo
Posted in gêmea má (maledicências), tagged cédula, eleições, impeachment, papel on dezembro 3, 2015| Leave a Comment »
Desculpa ter te mandando tomar em Cuba
Posted in raspas e restos (crônicas), tagged 2014, eleições, mariana miranda, política on outubro 28, 2014| 2 Comments »
Não acham que a disputa petralhas cubanos x coxinhas racistas foi reveladora, amiguinhos? Primeiro, por que a apuração dos votos atrasou por uma hora em respeito ao fuso horário do Acre – o que, necessariamente, comprova a existência do mesmo. Mas, principalmente, por que ela acabou com o longo trabalho de construção de imagem pública de muita gente fina, elegante e sincera. Conhece alguém que tenha passado o ano inteiro postando trechos de Paulo Coelho, foto de família feliz e cachorrinho para doação, mas que, de repente, entrou numa vibe malévola de “nordestino favelado feladaputa” e “chupa essa, playboy” para surpresa de todos? Pois é. Um lado acusando o outro de ditadura – não sei que ditadura é essa que até agora não chegou para sentar o cassetete em ambos – e perderam a linha bonito. Achei válido, achei coerente, achei que devia reprisar no Animal Planet.
Mas tudo isso foi até ontem. Depois de meses de chilique mútuo, acho que está rolando um certo silêncio constrangido nas redes sociais.
A minha primeira hipótese é de que bateu a ressaca moral. Né? Quem nunca? Se você também passou os últimos dias esbofeteando militante e chutando a cara de opositor, eu recomendo esse site que tem como proposta reatar as amizades com slogans criativos. Frases como “desculpa ter te mandando tomar em Cuba” ou “engavete tudo o que eu disse” tentam resgatar a paz mundial. Acho digno.
Já a segunda hipótese para o silêncio na internet seria de que metade do Brasil está estudando para o Pronatec e a outra parte partiu para Miami – deixando o Lobão para trás, infelizmente. Não sabemos. Espero que estejam festejando com pagode ou lamentando com Blue Label bem longe de qualquer teclado de computador, só por segurança, por que a cota de constrangimento nacional já estourou. Depois de tanto engajamento político ingênuo e repentino, rezo para que os meus compatriotas canalizem seus instintos homicidas para outro BBB ou Brasileirão – aliás, como de costume – e que reservem apenas o cérebro para questões de ordem pública. Caso tenha sobrado algum, é claro.
Vocês me mataram de vergonha nessas eleições, queridos. Temos que rever esse faniquito aí.
Até 2018. Um beijo.
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Ascensão sem glória
Posted in raspas e restos (crônicas), tagged budapeste, eleições, hungria, parlamento, publicidade on fevereiro 23, 2014| Leave a Comment »
Durante muitos anos, o maior ícone da política moderna no planeta foi um edifício da cidade de Budapeste. Era o maior parlamento do mundo. Ficava à beira do Danúbio e era enorme: tinha 700 salas e 27 entradas de puro luxo e ostentação. Hoje, lá também funciona um museu e a peça mais visitada do prédio inteiro é um pedacinho de metal. Um porta-charutos.
Devo acrescentar que o objeto é numerado, fica num canto desimportante e parece meio gasto. Dizem que ele se tornou relevante por que cada senador tinha direito a um número. No intervalo entre as sessões, eles fumavam um pouco na varanda, depois deixavam seus charutos lá, cada um no seu lugar certo, para terminarem de fumar nos dias seguintes. Era uma tradição.
O cargo no parlamento era vitalício e, às vezes, quando um senador falecia, os outros precisavam escolher um substituto para a vaga. Depois da eleição, o novato tomava posse da cadeira e de todas as obrigações da função: as pastas, os livros, os processos, quase tudo era imediato. Só o direito ao uso do porta-charutos era conquistado depois, com o passar dos anos. Quando ele se mostrasse à altura do cargo. Se o eleito honrasse o seu antecessor, demonstrando honestidade e empenho. E isso não acontecia no momento da ascensão. Era a coroação de um resultado.
Até hoje, na Hungria, um momento importante dentro do cenário político é o fim de um mandato. É quando se agitam bandeiras e se fazem discursos e acontecem estas manifestações que, aqui, estão associadas a uma vitória nas eleições. Nos baixos trópicos, pouco falamos sobre políticos em fim de gestão. O balanço de um governo consta basicamente na prestação de contas ao Ministério Público, que nem vale uma nota na imprensa, ocupada com novas pesquisas de intenção de votos. Aqui, sinônimo de aprovação popular é o empoderamento de um sucessor ou uma reeleição. Vivemos uma espécie de banquete sem digestão, de prelúdio sem ópera: no dia em que passam a faixa, homens e mulheres mergulham no anonimato sem nenhum rito de passagem, seja de aprovação ou de repúdio. Não se guarda, ao menos nos arquivos da mídia de massa, nenhuma memória exata sobre o que fizeram. Eles só voltam aos palanques caso embarquem em outra escalada por mais um cargo público – num círculo interminável que vem formando ótimos marketeiros e péssimos gestores. Num país realmente preocupado com resultados, nenhuma preparação seria mais importante do que o desfecho.
É certo que os tempos mudaram, que os governos evoluíram, mas talvez a democracia nunca tenha sido tão performática. Na maioria dos países, o período de campanha eleitoral se converteu numa corrida baseada na repetição, na persuasão, no discurso. E é curioso como os eleitores ignoram os índices dos últimos quatro anos, como preferem debater sobre promessas ainda abstratas. Se pensarmos pela lógica húngara, aonde estão os dados? O que temos a dizer sobre os que estão deixando a mesa? Nas últimas décadas, quantos eleitos já tomaram posse no nosso parlamento? Por fim, quantos realmente mereceriam espaço num porta-charutos hipotético por seus resultados?
Provavelmente, não sabemos. Desconhecemos os números. Mas sabemos qual é o slogan e qual o jingle do próximo candidato. Em 2014, voltaremos todos às urnas, cheios de fé e esperança num país melhor e mais justo. Que vença, outra vez, o melhor publicitário.
(Budapeste, 09 de julho de 2009)
Artigo publicado no Jornal Público, de Portugal. Confira aqui.


