Feeds:
Posts
Comentários

Posts Tagged ‘futebol’

Sim, cansei. Não adianta. Ainda mais depois de sábado. Convenhamos, a gente leva anos para se tornar uma pessoa interessante. Decora poema de Vinícius, usa roupa da moda, aprende tudo sobre astronomia, política externa e o raio que o parta. Tudo para atrair dois ou três olhares entre os próximos mais próximos. E até alcança o intento. Até aparecer alguém como a minha amiga Vera.

Implacável. Inclemente. Acabando com a festa de todas as damas do recinto. Alguém capaz de reunir as atenções e os elogios masculinos sem nenhuma fraternidade pela nossa existência. Uma afronta.

Se Vera é bonita? Na verdade, não. Aliás, desde menina, Verinha sempre foi especialmente feia. Mas, bastava ela aparecer em qualquer evento com sua camisa da seleção e seu violãozinho debaixo do braço, que a roda se abria. Incrível isso. E era só dedilhar duas ou três notas para despertar a comoção geral: era o hino do Ypiranga Futebol Clube. E a tragédia estava instalada. Depois do terceiro hino de torcida organizada, a criatura já era preferência nacional, diva, unanimidade – e viva a Verinhaaaa!!! Os rapazes não se continham. À volta da privilegiada crescia o coro de “uma vez flamengo, sempre flamengo” ou “sou fluminense de coraçãããooo” que seguia sempre até alta madrugada sem dó nem piedade de nós, espalhadas pelo salão, indignadas. Já disse que a Verinha era feia feito a fome? Este mundo não é justo.

Era uma cantoria sem fim. E, no final da noite, lá estava ela bem acompanhada com um dos convivas, sempre cuidadosamente selecionado, enquanto os outros disputavam sua atenção contando, emocionadíssimos, as proezas de Sócrates, Pelé, Garrincha e outros indispensáveis do campo. Todos gesticulando muito por comoção e saudades de um futebol do qual, infelizmente, não foram contemporâneos – ah, não se faz mais um time como aquele, Verinha, não se faz não… – lamentavam juntos, doloridos, órfãos, pedintes. E nós, abandonadas em algum sofá de canto, já descalças e sem maquiagem, só lamentávamos a Nasa ter levado apenas um homem para a lua. Ao invés de ter levado to-dos.

Mas a melhor foi neste sábado. Era uma reunião na beira da piscina, música, tudo ótimo. E, como sempre, no melhor da festa, chega ela, para nosso susto, pânico, terror e desespero. Já disse que a Verinha era feia feito a guerra? Mas nem preciso contar o que aconteceu o resto da madrugada. Já na saída, arrasada, esbarrei com a própria no estacionamento. Engoli meu orgulho e a cumprimentei, puxando qualquer assunto só por puxar: e aí, Verinha, tem jogo no estádio amanhã, você vai? – e a contemplada responde distraída, sincera – Para o estádio? Fazer o que lá?

Read Full Post »