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Posts Tagged ‘natal’

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Tenho vontade de explicar que sou filha de pais divorciados. Durante a vida inteira, passei metade da noite de Natal numa casa e, a outra metade da noite, em outra. Todos os meus recessos de férias foram divididos palmo a palmo entre as duas famílias. Os aniversários e feriados também. Me formei em duas profissões. Cursei dois mestrados. Tenho dois empregos. Morei em dois países. Sou do signo de Gêmeos. Não me lembro de estar diante de nenhuma decisão que não incluísse opções igualmente atrativas e, hoje, tenho serena convicção dos meus direitos inatos, acho que reivindicar o melhor dos dois mundos é plenamente justificável. Eu não poderia ser diferente. Entre o bolo e o sorvete, eu quero ambos, eu pago o dobro, eu exijo os dois.

É isso que eu tenho vontade de explicar, às vezes. Cada vez que alguém me olha assim, exausto, paciente, esperando por uma decisão objetiva. Esperando por uma escolha. Como se isso fosse possível.

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A ideia era fazer uma surpresa chegando no meio da festa de Natal. Eu estava do outro lado do país. Várias escalas no trajeto. Um dia inteiro de voo.

Ok.

Aí, no meio do caminho tinha uma turbulência. Uma turbulência no meio do caminho. Do nada. Céu azul. A coisa foi ficando séria.

foto 4

Primeira conjectura: poxa, se eu morrer em pleno 24 de dezembro, vou deixar todo mundo traumatizado. (?)

foto 1 (1)

Aí a luz apagou. Silêncio. Segunda conjectura: eu estou viajando sozinha, sem avisar, ninguém vai entender o que houve. Talvez se eu fotografar as condições climáticas pela janela, um dia os especialistas encontrem as imagens no meu celular e descubram por que foi mesmo que eu morri. (???)

foto 5 (8)

Um alarme vermelho piscando. Terceira conjectura: vou trocar de lugar. A iluminação aqui está ruim. Eu realmente não preciso que as últimas fotos da minha vida sejam horrorosas. (????????)

foto 4 (2)

O avião não caiu, é claro. Desembarquei à noite, segui direto para a festa. Entrei junto com o Papai Noel, numa dessas chegadas dramáticas, causando gritaria e desordem, como é do meu feitio. Foi engraçado. Todos berrando e correndo e levantando os braços, eufóricos, falando alto, lembrando histórias, gargalhando durante oito horas ininterruptas. A gente nem percebeu quando amanheceu e já era hora de eu retornar para o aeroporto. Voltar para o trabalho. Voltar para a minha vida.

No voo do retorno, mexendo no celular, achei por acaso essas fotos do dia anterior, que tirei durante a turbulência. Eu nem lembrava mais. Me surpreendi com a minha ridícula capacidade de arquitetar desfechos trágicos. Mas pensei também que teria sido uma pena se eu tivesse morrido antes daquela noite. Antes daquele reencontro. Antes da surpresa. Seria uma pena.

foto 5 (7)

Aí eu pensei: estar vivo é bom. Um dia a mais pode fazer tanta diferença. A gente esquece disso, dessa sorte. Estar vivo é maravilhoso.

foto 1 (2)

(Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 2013)

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