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Posts Tagged ‘vaidade’

Poltrona de veludo, tapete felpudo e música ambiente. Capuccino, conforto e tranquilidade. Ando frequentando um salão de beleza só pra ter um minuto de sossego.

Descobri que este é um argumento razoavelmente aceito para quem precisa se esquivar de um emaranhado de compromissos. Reunião? Palestra? Balanço? Infelizmente, hoje tenho hora marcada no salão de beleza. E pronto. Foi uma descoberta tão boa que deu vontade de voltar no tempo só pra ter usado desde sempre.

E como é bom respirar naquela bolha de tranquilidade. Mesmo que, às vezes, com alguma dificuldade para entender o que se fala lá dentro. Passo boa parte do tempo balançando a cabeça bovinamente sem saber a diferença entre cauterização, ionização e queratinização, me afligindo por ter que escolher entre blindagem, frisagem e balaiagem. Sabia que existem 105 tipos catalogados de tintura vermelha? Descobri decepcionada que o manjar de tapioca que me ofereceram era o nome de um esmalte e que a famosa francesinha nunca foi uma das funcionárias.

Mas estou gostando da experiência. A ignorância é uma bênção. É incrível como todas ali sabem exatamente o que é melhor pra mim: o melhor creme, a melhor selagem. Como num clã onde as irmãs mais velhas preparam a novata para uma espécie de rito de passagem, elas debatem entre si sobre qual o melhor formato para o desenho da minha sobrancelha. Eu nunca havia me dado conta de que possuo sobrancelha. Conferem o tom da pele numa tabela cromática, rascunham com grafite, ponderam. Acho solene. Quase aristocrata. Deito no divã e espero o veredicto como quem aguarda a escolha do próximo papa.

A verdade é que, como tantas outras mulheres nesta fase da vida, eu estou cansada. Atolada numa rotina onde é necessário ter iniciativa o tempo todo. É bom recostar num lugar onde não preciso ter todas as respostas. Ao menos por 50 minutos. Descobri no salão de beleza, para além das engrenagens históricas de objetificação feminina e precarização do trabalho, um reduto onde mulheres cuidam e se deixam cuidar. Onde tocam e se deixam tocar. Onde se perpetuam os rituais da tribo.

Desde então, como uma escoteira obediente, eu aceito todos os conselhos. E acato o protocolo inteiro desta pequena maçonaria. Poltrona de veludo, tapete felpudo e música ambiente. Às vezes, penso que todas as clientes compartilham do meu segredo.

Eu nem quero procedimento nenhum. Eu só quero um minuto de sossego.

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cemiterio orgulho e vaidade

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