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Posts Tagged ‘bíblia’

Saúde. Segurança. Fartura. Na sacristia, cada fiel costuma depositar um pedido ao pé da imagem. É a figura de um Cristo crucificado, numa expressão magra e imóvel que não parece inspirar ares de muita saúde. Ou segurança. Ou vida farta.

Ao lado, uma pintura da Santa Ceia. O cenário aonde os doze se reuniram antes de cada um tomar um rumo. Judas se matou logo depois. Os outros saíram levando aquela ideologia pelo mundo.

Eu soube que Mateus não quis negar a própria fé e morreu decapitado na Etiópia. Tomé foi esfaqueado pela mesma razão. João foi cozido em óleo. André morreu numa cruz. Paulo foi apedrejado. Jogaram Tiago do penhasco e, como ele sobreviveu, tiveram que espancar até a morte. Mas ninguém negou a fé. Todos foram até o fim.

Às vezes, me parece uma incoerência pedir proteção, saúde ou prosperidade aos pés da imagem de um homem crucificado. Por que, se a gente pensar bem, talvez essa nunca tenha sido a proposta.

Acho que, em oração, a gente devia pedir só coragem.

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Eu estou fazendo um curso de História da Antiguidade. O curso é bom, mas a verdade é que tanta informação acaba apertando a minha mente. O principal material didático das aulas é um livro com mais de mil páginas redigidas por uns 40 autores diferentes. Uma loucura. Querem conhecer uma publicação que mistura grego, hebraico e aramaico no mesmo prefácio? Senhores e senhoras, apresento-lhes: a Bíblia.

Nunca ouvi falar de nenhuma obra neste mundo que tenha levado mil e seiscentos anos para ficar pronta, só ela. Foi escrita por gente de todo tipo: homens e mulheres, ricos e pobres, reis e presidiários, judeus e católicos. A maioria nem se conheceu, alguns se detestavam. Uma Babel.

Apesar de tudo, estou gostando do curso. Ainda que eu passe boa parte da aula balançando a cabeça bovinamente, esperando por um milagre. Tenho péssima memória e nunca sei se quem ergueu o cajado foi Abraão ou Simão ou Salomão, se quem foi para o Egito foi Jacó ou José ou Josué, quem matou o irmão de quem, se o deserto fica na Judeia ou na Galileia ou na Arimateia ou em nenhuma das alternativas anteriores, muito pelo contrário. E o que dizer daquelas histórias fabulosas de gente abrindo o mar, movendo montanha, fazendo arca e derrotando gigante? Confundo com Titanic, com Super Man, com Godzila, com King Kong. Spielberg, me abraça.

O fato é que passei os últimos meses tentando decorar nomes e datas e lugares. E o enredo das narrativas mais desbaratadas. Aí, outro dia, a professora perguntou à turma qual era a frase que mais se repetia na Bíblia. A sentença que aparecia 366 vezes, simples e direta, em todas as histórias. Eu não fazia a menor ideia.

E a frase era: “Não tenha medo”. Em todos os enredos, nos três idiomas: “Não tenha medo”.

Às vezes, a gente não repara no que realmente interessa.

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