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Posts Tagged ‘escritor italiano’

“Um dos primeiros instintos dos pais, depois de pôr um filho no mundo, é o de fotógrafa-lo; e dada a rapidez do crescimento torna-se necessário fotógrafa-lo com frequência, pois nada é mais transitório e irrecordável do que uma criança de seis meses, rapidamente apagada e substituída pela de oito meses e, depois, pela de um ano; e toda a perfeição que aos olhos dos pais um filho de três anos pode ter atingido não é suficiente para impedir que suceda a ela, destruindo-a, a nova perfeição dos quatro, só restando o álbum fotográfico como lugar onde todas essas perfeições fugazes se salvam e se justapõem, cada uma aspirando a um absoluto próprio incomparável.” (pg. 46)

“Com a máquina fotográfica pendurada no pescoço, afundado numa poltrona, disparava compulsivamente com o olhar no vazio. Fotografava a ausência de Bice.” (pg. 56)

“Quem entende os deuses? – disse a mulher.” (pg. 111)

“Percebo que ao correr para Y o que mais desejo não é encontrar Y ao fim da minha corrida: quero que seja Y que esteja correndo para mim, esta é a resposta que preciso, ou seja, preciso que ela saiba que estou correndo para ela, mas ao mesmo tempo, preciso saber que ela está correndo para mim.”  (pg. 126-127)

“…essa cozinha era ainda mais maltratada que o meu quarto: o encerado da mesa gasto e manchado, xícaras sujas em cima do aparador, os ladrilhos desconjuntados e enegrecidos. E eu ficava sem voz, por que entendia que a cozinha era o único lugar da casa inteira onde aquela mulher realmente vivia, e o resto, as salas enfeitadas e continuamente varridas e enceradas eram uma espécie de obra de arte na qual ela derramava todos os seus sonhos de beleza, e para cultivar a perfeição daquelas salas se condena a não viver nelas, a nunca entrar nelas como dona da casa mas só como faxineira, e a passar o resto do dia no meio da gordura e da poeira.” (pg. 180)

“Eu a amava, em suma. E era infeliz. Mas como poderia ela algum dia entender essa minha infelicidade? Há aqueles que se condenam ao cinzento da vida mais medíocre por que tiveram alguma dor, alguma desgraça; mas há também aqueles que o fazem por que tiveram mais sorte do que podiam suportar.” (pg. 190)

“Será que os santos mudariam de vida se soubessem que o paraíso não existe?” (pg. 212)

(Ítalo Calvino/ Os Amores Difíceis, 1970)

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