“Era um desses dias em que tudo corre bem.
Tinha limpado a casa e escrito
dois ou três poemas que me agradavam.
Não pedia mais nada.
Então saí pelo corredor para retirar o lixo
e, atrás de mim, com um pé-de-vento,
a porta se fechou.
Fiquei sem chaves e às escuras
sentindo as vozes de meus vizinhos
através de suas portas.
É transitório, disse a mim mesmo;
porém assim também podia ser a morte:
um corredor escuro,
uma porta fechada com a chave para dentro.
O lixo nas mãos.”
.
.
(do poeta argentino Fábián Casas / Sem chaves e às escuras)