Feeds:
Posts
Comentários

Posts Tagged ‘hermann hesse’

“Talvez pela primeira vez em minha curta vida, senti, quase até o limiar da minha compreensão e da consciência, como tão indizivelmente duas criaturas humanas bem intencionadas uma com a outra podem desentender-se, atormentar-se e torturar-se reciprocamente.” (pág. 37)

“Goethe disse em Egmont: o homem pensa que dirige a sua vida, que se conduz. Mas o seu íntimo é arrastado irreversivelmente na direção do seu destino.” (pág. 64)

“Ela não resistiu ao convite, nem ao sorriso jovem que brilhou por um momento no rosto triste do homem, conferindo-lhe uma estranha beleza, como um papel de parede vistoso que alegra a última parede de uma casa incendiada e em ruínas.” (pág. 94)

“Nunca se era mais completamente abandonado por uma pessoa íntima do que quando essa pessoa dormia. E, como tantas vezes antes, veio a ideia da imagem de Jesus a sofrer no Jardim das Oliveiras sufocado pela angústia da morte, enquanto os discípulos dormiam e mais dormiam.” (pág. 104)

(Hermann Hesse / O Último Verão de Klingsor)

Read Full Post »

Este foi o livro de abril. Trechos do romance de Hesse:

“Desprezava conscientemente a burguesia e vivia orgulhoso de não pertencer a ela. Contudo, sob muitos aspectos, vivia inteiramente como burguês, tinha dinheiro no banco, ajudava alguns parentes pobres, vestia-se sem cuidados particulares mas de maneira decente e sem chamar a atenção; procurava viver em paz com a polícia, os coletores de impostos e outros poderes semelhantes. Mas além disso sentia forte e secreta atração pela vida burguesa, pelas tranqüilas e decentes residências familiares com seus bem cuidados jardins, suas escadas reluzentes e sua modesta atmosfera de ordem e decoro. Agradava-lhe ter pequenos vícios e extravagâncias, sentir-se antiburguês, esquisitão ou gênio, mas nunca fixava residência onde não existisse nenhuma classe da burguesia. Não se encontrava à vontade em meio de pessoas violentas e atrabiliárias, nem entre delinqüentes e criminosos, mas antes procurava sempre viver em meio à classe média, com cujos hábitos, normas e atmosfera estava bem familiarizado, embora pudesse ter contra elas revolta e oposição. Além disso, fora educado em meio à pequena burguesia e dela conservara um grande número de idéias e noções. Teoricamente nada tinha em contrário à prostituição, mas na prática não seria capaz de levar uma prostituta a sério ou considerá-la realmente sua igual. Aos criminosos políticos, aos revolucionários ou aos sedutores espirituais, podia amá-los como se fossem seus irmãos, ou respeitar o estado e a sociedade, mas não saberia como tratar um ladrão, um criminoso ou sádico, a não se demonstrando por eles uma compaixão eminentemente burguesa.

(…) O “burguês”, como um estado sempre presente da vida humana, não é outra coisa senão a tentativa de uma transigência, a tentativa de um equilibrado meio-termo entre os inumeráveis extremos e pares de opostos da conduta humana. Tomemos, por exemplo, qualquer dessas dualidades, como o santo e o libertino, e nossa comparação se esclarecerá em seguida.  (…) nunca será mártir nem consentirá em sua destruição, mas, ao contrário, seu ideal não é a entrega, mas a conservação de seu eu, seu esforço não significa nem santidade nem libertinagem, o absoluto lhe é insuportável, quer certamente servir a Deus, mas também entregar-se ao êxtase, quer ser virtuoso, mas quer igualmente passar bem e viver comodamente sobre a terra. Em resumo, tenta plantar-se em meio aos dois extremos, numa zona temperada e vantajosa, sem grandes tempestades ou borrascas, e o consegue ainda que à custa daquela intensidade de vida e de sentimentos que uma existência extremada e sem reservas permite.

(…) E, todavia, a burguesia vive, é forte e próspera. Porquê? A resposta é a seguinte: por causa dos lobos da estepe. Dos inadaptados. O burguês queima hoje por herege e enforca por criminoso aquele ao qual amanhã levantará estátuas.”

(O Lobo da Estepe / Hermann Hesse)

Read Full Post »