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Posts Tagged ‘mariana miranda’

Saúde. Segurança. Fartura. Na sacristia, cada fiel costuma depositar um pedido ao pé da imagem. É a figura de um Cristo crucificado, numa expressão magra e imóvel que não parece inspirar ares de muita saúde. Ou segurança. Ou vida farta.

Ao lado, uma pintura da Santa Ceia. O cenário aonde os doze se reuniram antes de cada um tomar um rumo. Judas se matou logo depois. Os outros saíram levando aquela ideologia pelo mundo.

Eu soube que Mateus não quis negar a própria fé e morreu decapitado na Etiópia. Tomé foi esfaqueado pela mesma razão. João foi cozido em óleo. André morreu numa cruz. Paulo foi apedrejado. Jogaram Tiago do penhasco e, como ele sobreviveu, tiveram que espancar até a morte. Mas ninguém negou a fé. Todos foram até o fim.

Às vezes, me parece uma incoerência pedir proteção, saúde ou prosperidade aos pés da imagem de um homem crucificado. Por que, se a gente pensar bem, talvez essa nunca tenha sido a proposta.

Acho que, em oração, a gente devia pedir só coragem.

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Uma vez, perguntaram ao Beethoven por que ele compunha: “Por que só os músicos utilizam de todas as liberdades que podem”. Perguntaram ao Spielberg por que ele fazia filmes: “Para responder às perguntas dos meus filhos”. Fiquei imaginando se alguém me perguntassem por que eu me tornei redatora (não sei por que alguém faria isso, não sou ninguém relevante na fila do pão) mas eu pensaria numa resposta bem inteligente e mentirosa. Por que a verdade é meio psicopata: por que gente confusa me dá aflição.

Parte do meu trabalho consiste em reescrever textos (técnicos ou jurídicos ou acadêmicos ou chatos) para uma linguagem descomplicada. Você já imaginou quantos dramas nessa vida seriam evitados graças a este humilde ofício, caro leitor? Quanta mensagem não é entendida – ou é direcionada para o público errado ou passa despercebida quando era para estar em neon gritante sobre o Empire State – de forma que me dá gastura só de pensar em todo esse ruído – pego o cidadão pelo braço e sacudo: olha, vem cá, senta aqui, me diz o que você quer, eu escrevo pra você.

Costumo sofrer especificamente em filmes em que os personagens não conseguem se comunicar.

Não aguento com ET, coitado. Tendo que esticar aquele dedo enorme para o céu mil vezes – ET, telefone, minha casa – e os humanos concluindo que ele tinha um dedo fenomenal. Eu já teria mandado explodir o planeta só de raiva. Tenho aflição em todas as cenas de Casablanca, peço para morrer com a carta que ele lê debaixo da chuva – uma carta de desculpas que não explica nada e só faz o cara ter vontade de chutar aquela macumba. O Paciente Inglês sem conseguir chamar uma ambulância em árabe. Forrest Gump contando sua historinha para ninguém. Taxi Driver falando sozinho. Em A Idade da Inocência, os dois gaguejando para contar a verdade um para o outro e empatando a existência de todo mundo até a gente querer levantar da poltrona, pegar ambos pelo colarinho e encher de bolacha.

Ou seja, não é vocação. É maluquice mesmo.

Mas, se alguém perguntasse (ninguém vai perguntar), eu daria uma resposta aleatória só por quê desconfio que, no fundo, as pessoas não querem simplificar tanto as coisas. Por mais esquizofrênico que isso pareça, ninguém quer transformar suas cartas em bula de remédio. O povo adora os roteiros confusos por que dão margem ao subtexto e talvez objetivar seja uma antítese da vida real. Se o mundo tivesse manual de instruções, confesse, você também não leria.

Gente confusa me dá aflição – e talvez isso inclua todo o pântano verde musgo da humanidade. Acho que, se alguém me perguntasse por que escolhi este ofício, eu seria irritantemente evasiva só para dar o troco. Diria, inclusive, que aquela era uma boa pergunta. Balançaria a cabeça afirmativamente. Sorriria para uma câmera imaginária, olhar perdido. E aguardaria pelas interpretações mais desbaratadas.

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Caros leitores que amo, mas não compreendo:

Devido ao recente gráfico de audiência, fui recomendada pela própria rede social a criar uma Fanpage no Facebook.

(Gente, o que houve? DOIS MIL acessos por hora e mil compartilhamentos num post sobre restaurantes? rs)

Agradeci o convite, fiquei enrolando para aceitar a ideia, fazendo cara de paisagem. Porém, vamos encarar os fatos: todo mundo já migrou para lá. É a realidade sambando na nossa cara.

Então, quem quiser receber novos textos direto na sua página, é só clicar:

https://www.facebook.com/falamarimiranda

Quem quiser continuar assinando só o blog, fique à vontade. Puxa um banquinho, senta mais perto, que ainda tem Chandelle na geladeira.

 

milionário no banco imobiliário

 

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Esta é a lista dos restaurantes mais badalados, só que ao contrário. Ela existe há cinco anos. É fato que ter a lista anual dos restaurantes mais reservados da cidade publicada abertamente na rede mundial de computadores tira toda a privacidade da coisa, mas, né? A gente tem um coração generoso.

De nada.

🙂

ARAM YAMI – O primeiro restaurante da seleção não é exatamente um restaurante (coerência, um beijo), mas continua no topo da lista por motivo de: amor eterno. Apenas cinco quartos com design indonésio e piscina privativa de borda infinita com vista para o mar. Banheiro dourado com teto solar e um currículo de visitantes como Nizan Guanaes, diretores da Globo e pessoas que precisam passar despercebidas porque, sei lá, devem ao Serasa.

Rua Direita de Santo Antônio, 132, Santo Antônio Além do Carmo, Salvador Tel.: (71) 3242-9412

Atualização 19/05, 15h – Galera, a gerência do Aram Yami escreveu agora um comentário aqui solicitando que a casa fosse retirada imediatamente da lista. Informaram que são um hotel e não deveriam constar numa lista de restaurantes: “se retrate e atualize seu blog com informações verídicas”. Acabou-se o amor eterno, rs. Desconsiderem da lista, tá?

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CASA DAS PORTAS VELHAS – não funciona todo dia e também é um hotel. Não tem estacionamento e fica numa rua escura e meio perigosa, recomenda-se ir de táxi. Casarão colonial com banheira ao ar livre, cenário que imita as praças europeias. Me representa.

Rua da Palma, 06, Nazaré, Salvador Tel.: (71) 3324-8400

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CAFELIER – Café francês dentro do antiquário, com biblioteca, museu, de frente para o mar. Seis mesinhas e um preço honesto.

Rua do Carmo, 50 – Santo Antonio, Salvador Tel.: (71) 3241-5095

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O JARDIM DAS DELÍCIAS – Suponho que a decoração seja inspirada na obra “O Jardim das Delícias”, de Hieronymus Bosch, por causa da mistura com as plantas tropicais. Mas, divago. Fica no Pelourinho, no quintal de uma casinha verde.

Rua Maciel de Cima, 12, Pelourinho, Salvador Tel.: (71) 3321-1449

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LA PULPERIA – Atrás do posto policial, no improvável bairro de Brotas. A churrascaria é mais charmosa pela noite e o cardápio é inspirado nas culinárias argentina e uruguaia. Há mosquitos, mas é arejado.

Ladeira do Acupe de Brotas, Salvador Tel.: (71) 3015-7379

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OSTERIA DELL’AGAZZI – No porão de uma casa residencial. Italiano com piano e luz de velas, é intimista e romântico, não tem mais que dez mesas. Passou um tempo fazendo assombrosas aparições no site do Grupon, mas já voltou à reclusão midiática, para alívio de todos.

Rua Antônio Dos Passos, 30, Federação, Salvador Tel.: (71) 3245-9069

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CONVENTUAL – Comida portuguesa dentro do hotel do Convento do Carmo, Pestana. Já falei que eu pagaria só para dar uma voltinha dentro do hotel e ficar respirando lá dentro? Possui mais mesas do que a gente gostaria (umas 25), mas tem também um pequenino bar com jazz em dias de semana. Em fins de semana, não caia no golpe do couvert.

Rua do Carmo, s/n, Carmo, Salvador Tel.: (71) 3327-8400

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MONTELO GOURMET – Você já assistiu ao filme “Cocoon”, ilustrado leitor? Com aquela cena gracinha dos vovôs e vovós se jogando na piscina? Este italiano andrógino fica dentro do hotel Cocoon, que é inspirado no filme. Em 2014, estão fazendo uma obra próxima ao hotel, então o restaurante está praticando preços promocionais até o fim do ano. Acho digno.

Rua Haeckel José de Almeida, 238, Jaguaribe, Salvador Tel.: (71) 9153-0692

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ZANK – O restaurante abre quase todos os dias, com vista para o mar. Também é hotel. Opção de banheira a céu aberto na cobertura, sala de massagens asiáticas e cadeiras com design assinado. Em datas comemorativas, há um garçon por corredor para completar a sua taça de espumante. (E se esse argumento não merecer a sua visita, nada mais merecerá).

Rua Almirante Barroso, 161, Rio Vermelho, Salvador Tel.: (71) 3083-4000

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CASA LISBOA – Ainda não tive a honra de conferir pessoalmente, mas parece um bom candidato, concordam? Será ele obscuro o bastante? Frequentem e me escrevam. Currículo em avaliação.

Rua Manuel Dias de Morais, 35, Apipema, Salvador Tel.: (71) 3331-3841

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Esse ano, ficam de fora casas louváveis, como Confraria Mediterrâneo, Risoteria Terra Brasil, Le Rendez-Vous, MME Champanharia, Al Carmo, Jabuticaba, Mercato Divino, Café do Solar, dentre outros, por conta de aglomerações repentinas em 2013: Restaurante Week, Peixe Urbano, Guia Veja etc. Se a coisa continuar neste ritmo, caminhamos para o delivery.

Caso você tenha outras sugestões, opiniões, críticas, ameaças: envie pra cá. Ou não envie para ninguém e continue frequentando sozinho, por que é muito melhor.

Acompanhe as novidades também na fanpage: www.facebook.com/falamarimiranda

Ou conheça as crônicas mais lidas deste blog aqui.

Ou faça sua reclamação aqui.

Voltamos à nossa programação normal, boa noite.

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irma dulce mariana miranda

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tirinha dinossauros

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“Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão.

Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta, nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. (…) Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro. A menina abriu os olhos, pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. (…) No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos – lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam. Mas ambos eram comprometidos. Ela, com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada. A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam.

Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina. Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.”

 

(Tentação / Clarice Lispector)

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(Refinaria Petrobras em Madre de Deus, Bahia, 08 de outubro de 2013)

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