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Posts Tagged ‘fernando pessoa’

“Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).”

(Fernando Pessoa / Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio)

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“Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.”

(Fernando Pessoa / Poemas Inconjuntos, 1946)

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“Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas (…)
Não, não creio em mim
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas! (…)
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta (…)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu (…)
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim, não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo.”

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(Fernando Pessoa / Tabacaria)

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Duas ou três aspas da coletânea (ou o que foi possível resumir, diante do impulso natural de querer transcrever a obra inteira).

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“Dá-me mais vinho, por que a vida é nada.” (Pág. 21)

“Às vezes, ponho-me a olhar uma pedra. Não me ponho a pensar se ela sente. Não me perco a chamar-lhe minha irmã. Mas gosto dela por ela ser uma pedra, gosto dela por que ela não sente nada. Gosto dela por que não tem parentesco nenhum comigo. Outras vezes ouço passar o vento. E acho que só de ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.” (Pág. 29)

“Quando vier a primavera, se eu já estiver morto, as flores florirão da mesma maneira e as árvores não serão menos verdes que na primavera passada. A realidade não precisa de mim. Sinto uma alegria enorme ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma. (…) Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. Não tenho preferências para quando não puder ter preferências. O que for, quando for, é o que será.” (Pág. 31)

“Os deuses são deuses por que não pensam.” (Pág. 37)

“Não só quem nos odeia e inveja nos limita e oprime. Quem nos ama não menos nos limita.” (Pág. 39)

“Se, em certa altura, tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita. Se, em certo momento, tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim. Se, em certa conversa, tivesse dito as frases que, só agora, no meio-sono, elaboro – se tudo isso tivesse sido assim, seria outro hoje e talvez o universo inteiro fosse insensivelmente levado a ser outro também.” (Pág. 65)

“O automóvel, que parecia a pouco dar-me liberdade, é agora uma coisa onde estou fechado, que só posso conduzir se nele estiver fechado. Que só domino se me incluir nele, se ele incluir a mim.” (Pág. 65)

“Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar e ao volante. Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação. Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra. Cada vez menos perto de mim.” (Pág. 69)

“Quem quer dizer o que sente não sabe o que há de dizer. Fala, parece que mente. Cala, parece esquecer.” (Pág. 92)

“Não sabemos da alma, senão da nossa. As dos outros são olhares, são gestos, são palavras com a suposição de qualquer semelhança no fundo.” (Pág. 105)

“Se alguém bater um dia à sua porta dizendo que é um emissário meu, não acredites. Nem que seja eu. Pois o meu vaidoso orgulho não comporta bater sequer à porta irreal do céu. Mas se, naturalmente, e sem ouvir ninguém bater, fores abrir a porta e encontrares alguém como que à espera de ousar bater, medita um pouco. Esse era meu emissário. E eu. E o que comporta o meu orgulho do que desespera. Abre a quem não bater à tua porta.” (Pág. 106)

(Fernando Pessoa / Tabacaria e Outros Poemas)

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fernando pessoa bernardo soares

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#31

placa rua da saudade_400

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”

(Fernando Pessoa)

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(Santa Apolônia, Lisboa, 04 de janeiro de 2011)

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