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Posts Tagged ‘jean-paul sartre’

“Se olhares muito tempo para o espelho, acabas por ver um macaco.” (pág. 25)

“Atravessei os mares, deixei cidades ficar para trás e subi os rios ou penetrei pelas florestas e buscava sempre outras cidades. Possuí mulheres e joguei à pancada com os homens. E nunca podia volta atrás, como um disco não pode girar ao contrário. E tudo isso me leva aonde? A este minuto, a este acento, a esta bolha de claridade sussurrante de música: and when you leave me.” (pág. 32)

“Deve ser uma transformação tão grande. Se, um dia, eu fosse fazer uma viagem, acho que tentaria, antes de partir, notar por escrito os menores traços do meu caráter… e, à volta, compararia o que era antes com o que fosse depois. Li que há viajantes que mudam tanto que, ao regressarem, os seus parentes mais próximos não os reconhecem.” (pág. 43)

“Quando se vive, não sucede nada. Os cenários mudam, as pessoas entram e saem. Nunca há princípios. Os dias sucedem aos dias, sem tom nem som, é um alinhamento interminável e monótono. De vez em quando tira-se uma nota parcial, diz-se: há três anos que ando a viajar, há três anos que estou em Bouville. E fins também não há: nunca se deixa uma mulher de uma só vez, nem um amigo, nem uma cidade. E, depois, tudo se parece: Xangai, Moscou, Argel, ao fim de quinze dias, é tudo o mesmo. Em certos momentos – raras vezes – deitam-se contas à vida, percebe-se que estamos ligados a uma mulher, que nos metemos uma boa confusão. Como um clarão, o momento passa. Então o desfile recomeça, voltamos a alinhar as horas e os dias. Segunda, terça, quarta. Abril, maio, junho. 1924, 1925, 1926. Viver é isto.” (pág. 49)

“Dentro de quatro dias voltarei a ver Anny: esta é, por agora, a minha única razão para viver. E depois? Quando Anny me tiver deixado? Vejo bem que, pela calada, vou esperando: vou esperando que ela nunca mais me deixe. Devia saber muito bem, entretanto, que Anny nunca se sujeitará a envelhecer diante de mim. Sou fraco, tenho precisão dela. Gostaria de estar em forma quando a vir: Anny não tem piedade dos destroços.” (pág. 118)

“Tudo o que existe nasce sem razão, prolonga-se por fraqueza e morre por encontro imprevisto.” (pág. 151)

“Tu és um marco – diz ela – um marco à beira duma estrada. Explicas impertubavelmente e explicarás toda a vida que Melun fica a vinte e sete quilômetros e, Montargis, a quarenta e dois. É por isso que preciso de ti. (…) Preciso que existas e que não mudes.” (pág. 155)

(Jean-Paul Sartre / A Náusea)

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