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Posts Tagged ‘legião urbana’

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Red-Galaxy2

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Subi um segundo antes do motorista arrancar e ainda senti o sopro da porta fechando nas minhas costas, o cobrador olhando, eu estendendo uma nota amassada de dois reais. Pensei que ele diria algo, e ele disse, mas eu estava com fones de ouvido, só havia o Renato Russo com sua voz pesada, mudaram as estações, nada mudou. Sentei no último banco, o cobrador ainda perguntando algo, qualquer coisa do tipo alguém troca dez reais ou alguém tem horas aí ou alguém perdeu um chaveiro, um burburinho vai se formando nos bancos da frente, meus olhos de paisagem acompanhando a tudo como num cinema mudo, o Renato insistindo, está tudo assim, tão diferente. Encosto a cabeça na vidraça, suor, calor, poeira, vento na cara. Abraçado à mochila vou lembrando, esse lugar, qual foi mesmo a última vez em que estive aqui? Quando chegar em casa vou fazer um suco e tomar um banho e abrir as janelas, esse verão abafado – fui pensando assim, dispersivo, calado, inconclusivo, rastejando os olhos por aquelas ruas de latas de lixo viradas, calçadas gastas, muros riscados, o ônibus sacolejando e o cobrador entregando o tal chaveiro a um dos passageiros enquanto um senhor de barba branca, tipo um Papai Noel magrinho, começa um discurso no corredor, fico quieto, olhando pra ele, talvez seja um evangélico citando trechos terríveis do Apocalipse ou seja alguém que pede esmola para os treze netinhos carentes que moram lá em Itapetinga ou um hare krishna vendendo incensos e balas de gengibre, eu não posso escutar, mas, agora, olhando bem – olhando bem, meu Deus, ele está cantando.
A canção dele também é triste, todos baixam os olhos. Sem ouvir, imagino rimas, adivinho versos, o pra sempre sempre acaba. A mochila contra o peito, o sol na cabeça, confiro o celular, nenhuma chamada perdida. E é nessa hora, dobrando a última avenida, num calor amazônico de 35 graus que eu passo os dedos sobre o teclado do telefone como um cego procurando a luz em braile e penso e sofro e mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está, por pouco, por muito pouco, não digito o seu número de repente e ligo pra perguntar qualquer coisa boba, besta, banal, qualquer coisa do tipo – tudo bem ou como vai você?

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