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Posts Tagged ‘literarura’

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“Chega mais perto e contempla as palavras
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?”

(Carlos Drummond de Andrade / Procura da Poesia)

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“Denominamos afins aquelas naturezas que, ao se unirem, rapidamente se prendem e se identificam umas com as outras. Os álcalis e os ácidos antagonizam-se, mas apesar disso, ou talvez por isso mesmo, procuram-se avidamente e se apegam, modificando-se, e formam um novo corpo, revelando sua afinidade de maneira suficientemente clara. Pensemos na cal, que revela grande inclinação por todos os ácidos, uma verdadeira compulsão à união. Do mesmo modo, podem nascer amizades realmente significativas entre os humanos, pois qualidades opostas propiciam uma união mais estreita.” (Pág. 56)

“Nunca fui acusado diretamente, mas pelas costas diziam: eu era um incompetente. Em quase tudo, agia como um amador. Pode ser. Eu ainda não havia encontrado a matéria em que pudesse me revelar um mestre. Quero ver agora quem há de me superar na arte do amor.” (Pág. 151)

“Ouvimos falar de um curioso costume da marinha inglesa. Todas as cordas da armada real, da mais resistente à mais débil, trazem um fio vermelho que as atravessa de uma ponta a outra e ele não pode ser retirado sem que elas se desfaçam completamente. Deste modo, até o cordão mais insignificante ostenta sua pertença à Coroa.” (Pág. 169)

“É deveras agradável a sensação de nos ocuparmos de um assunto que não conhecemos bem, pois ninguém tem o direito de censurar o diletante quando ele se aventura numa arte que jamais dominará por inteiro.” (Pág. 172)

“Nada assinala melhor o caráter das pessoas do que as coisas que consideram ridículas.” (Pág. 188)

“Neste mundo, tomamos uma pessoa pelo que ela se faz passar. E, de toda maneira, ela tem de se fazer passar por algo. Toleramos mais os indivíduos incômodos que os insignificantes.” (Pág. 201)

“Certa fraqueza torna os grandes homens reféns de sua época. (…) Acreditamos que agimos com autonomia, escolhendo nossos afazeres e divertimentos, mas, se pensarmos bem, somos levados tão somente a agir de acordo com os planos e inclinações do nosso tempo.” (Pág. 203 – 225)

“O mais autêntico objeto de estudo da humanidade é o homem.” (Pág. 224)

“O destino contempla os nossos desejos, mas faz isso a seu modo, a fim de nos oferecer algo que está acima deles.” (Pág. 238)

“Foi enorme a alegria do reencontro. As amizades de juventude, assim como a afinidade consanguínea, possuem a grande vantagem de não serem abaladas definitivamente por nenhum equívoco. (…) Esses sentimentos acompanharam-me, sustentaram-me diante de todos os perigos. Agora sinto-me na posição de alguém que atingiu o alvo, que superou todos os obstáculos, que nada mais depara em seu caminho.” (Pág. 259 – 260)

(As Afinidades Eletivas / Goethe, 1809)

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“Às vezes, Fernando é uma mancha na vida de Daniela; mas quem não é, de vez em quando, uma mancha na vida de alguém?” (Pág. 12)

“Como representar o que acontece enquanto conversam? O que deixam de dizer um para o outro, aquele fundo de censuras tímidas, de minúcias, que se agita enquanto falam? Como iluminar as áreas que ambos decidiram deixar às escuras? Depois de uma época difícil, decidiram retornar ao pacto de não agressão, à indireta cumplicidade dos que estão conscientes de partilhar apenas um fio de vida.” (Pág. 76)

“- Você já quis ser professor de educação física?
– Não.
– Já quis fazer parte do Greenpeace?
– Não.
– Já quis ser outra coisa?
– É, a gente sempre quer ser outra coisa, Daniela. A gente nunca está contente com o que é. Seria estranho estar completamente contente.” (Pág. 90)

(Alejandro Zambra / A Vida Privada das Árvores)

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