“Todo o meu nascer
foi prematuro.
Agora,
em meus filhos
me vou dando às luzes.
Descendo, sim,
dos que hão de vir.”
(Mia Couto / Biografia)
Posted in books on the table (literatura), tagged biografia, descendente, literatura, mariana miranda, marianamiranda, mia couto, nascer, poema, poemas, poemas escolhidos, poesia on novembro 12, 2019| Leave a Comment »
“Todo o meu nascer
foi prematuro.
Agora,
em meus filhos
me vou dando às luzes.
Descendo, sim,
dos que hão de vir.”
(Mia Couto / Biografia)
Posted in books on the table (literatura), tagged áfrica, desmaiar, desmaio, falamarimiranda, literatura, livro, livros, mariana miranda, marianamiranda, mia couto, moçambique, romance on julho 21, 2019| Leave a Comment »
“- Posso fazer-lhe uma pergunta íntima?
– Depende – responde o português.
– O senhor já alguma vez desmaiou, Doutor?
– Sim.
– Eu gostava muito de desmaiar. Não queria morrer sem desmaiar.
O desmaio é uma morte preguiçosa, um falecimento de duração temporária. O português, que era um guarda-fronteira da vida, que facilitasse uma escapadela dessas, uma breve perda dos sentidos.
– Me receite um remédio para eu desmaiar.
O português rir-se. Também a ele apetecia uma intermitente ilucidez, uma pausa na obrigação de existir.
– Uma marretada na cabeça é a única coisa que me ocorre.
Riem-se. Rir juntos é melhor do que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi deixando de ser nosso.”
(Mia Couto / Venenos de Deus, Remédios do Diabo)
Posted in books on the table (literatura), tagged diálogo, falamarimiranda, literatura, livro, mariana miranda, mia couto, moçambique, trecho on junho 3, 2019| Leave a Comment »
“- Aquela campa lá é do meu bisavô Germack.
– E esta é a campa de Deolinda? – pergunta Sidônio, apontando para a enferrujada âncora.
– Não. Esta será a campa de Bartolomeu.
– E onde está enterrada Deolinda?
– Eu já lhe disse, Deolinda não mora na terra, ela é uma sombra.
– Diga-me, qual é a campa dela?
A resposta borboleteara sem pouso: a pessoa que amamos está enterrada em todos os lados.”
(Mia Couto / Venenos de Deus, Remédios do Diabo)
Posted in books on the table (literatura), tagged literatura, mariana miranda, mia couto, moçambique, poema, poesia on janeiro 31, 2017| Leave a Comment »
“Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem
os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça
Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno
Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci
Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo, outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos
No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome.”
(Mia Couto / Raiz de Orvalho)
Posted in books on the table (literatura), tagged áfrica, mia couto, moçambique on novembro 30, 2015| Leave a Comment »
“Quem não tem amigo viaja sem bagagem.” (Pág. 32)
“Se o cansaço é uma velhice súbita, eu já me contava pelas últimas idades.” (Pág. 41)
“Ambos queríamos partir. Ela queria partir para um novo mundo, eu queria desembarcar numa outra vida. Farida queria sair de África, eu queria encontrar um outro continente dentro de África. Eu nunca seria capaz de me retirar, virar as costas. Eu tinha a doença da baleia que morre na praia, com olhos postos no mar.” (Pág. 90)
“A morte, afinal, é uma corda que nos amarra as veias. O nó está lá desde que nascemos. O tempo vai esticando as pontas da corda, nos estancando pouco a pouco.” (Pág. 118)
“Hoje é domingo. Amanhã também.” (Pág. 137)
“Naquela altura, não havia nenhuma elevação, tudo em volta era planície. O morto começou a crescer debaixo da terra e suas costas encurvaram, empurrando o chão. Foi assim que nasceu a montanha.” (Pág. 150)
“Por que esta guerra não foi feita para vos tirar do país, mas para tirar o país de dentro de vós. Agora, a arma é a vossa única alma.” (Pág. 194)
(Mia Couto / Terra Sonâmbula)