“Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.
Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva.”
(Bertolt Brecht / Para Ler de Manhã e à Noite, no livro Poemas 1913 – 1956, pág. 143)
Posted in books on the table (literatura), tagged alemanha, Bertolt Brecht, falamarimiranda, literatura, livro, mariana miranda, poema, poemas, poesia on junho 1, 2020| Leave a Comment »
“Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.
Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva.”
(Bertolt Brecht / Para Ler de Manhã e à Noite, no livro Poemas 1913 – 1956, pág. 143)
Posted in choro baldes (arte), tagged alemanha, mariana miranda, on the road on setembro 27, 2011| Leave a Comment »
(Berlim, 17 de setembro de 2011, 15 graus)
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“Para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos pra viver, loucos pra falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante – pop! – pode-se ver um brilho azul e intenso até que todos ‘aaaaaah!’. Como é mesmo que eles chamavam esses garotos da Alemanha de Goethe? (…) Por isso eu formigava inteiro, contava os minutos e subtraía os quilômetros. Bem em frente, por trás dos trigais esvoaçantes, que reluziam sob as neves distantes do Este, eu finalmente veria Denver. Imaginei-me num bar qualquer da cidade, naquela noite, com a turma inteira: aos olhos deles, eu pareceria misterioso e maltrapilho, como um profeta que cruzasse a terra inteira para trazer a palavra enigmática, e a única palavra que eu teria a dizer era: Uauuu!!! Eu estava na metade da América, meio caminho andado entre o Leste da minha juventude e o Oeste do meu futuro e é provável que tenha sido exatamente por isso que tudo se passou exatamente ali, naquele entardecer dourado e insólito. (…) Em algum lugar ao longo da estrada eu sabia que haveria visões e tudo mais. Na estrada, em algum lugar, a pérola me seria ofertada.”
(Jack Kerouac / On the road)
Posted in vasto mundo (viagens), tagged alemanha, berlim, mariana miranda on setembro 26, 2011| Leave a Comment »
Portal de Brandemburgo
Bar intinerante
Sony Center
Catedral de Berlim
(Berlim, 16 de setembro de 2011, 18 graus)
Posted in raspas e restos (crônicas), vasto mundo (viagens), tagged alemanha, mariana miranda, muro de berlim on setembro 23, 2011| 1 Comment »
Digamos que era uma sexta-feira à noite. Digamos que você foi a uma festa. Ou foi fazer supermercado, ou visitar um amigo, ou resolver algum assunto banal. Agora imagine que você está voltando para casa e descobre que construíram um enorme muro dividindo a cidade no meio. Bem no caminho para a sua casa. E que você ficou do lado errado.
Foi isso o que aconteceu com milhares de pessoas depois da construção do muro de Berlim, em 1961. Ele foi feito em uma noite. Todo de cimento pré-moldado, como um jogo de armar, subiu em poucas horas, ninguém viu. E dividiu a cidade por 28 anos. Famílias foram fragmentadas, casais separados, gente desaparecida. Alguns tentaram de tudo – túneis, balões, uma corda amarrada entre um edifício e outro. Muitos foram fuzilados. Se, por acaso, você estivesse do lado oposto, não havia como voltar.
Muro de Berlim, Muralha da China, Muro das Lamentações – eu nunca entendi direito a diferença entre uma coisa e outra, talvez você também não saiba. Para começar, o de Berlim não dividia a cidade por igual: ele tinha quatro lados e ilhava a Berlim Oriental no meio. Hoje, existe até um monumento para explicar melhor esta sensação de isolamento – numa praça, há quatro paredes altas formando um quadrado fechado, sem nada no centro. Vazio. Os turistas procuram uma entrada, não encontram, andam em volta, ficam olhando e não entendem nada. E a ideia é essa mesmo.
Hoje, o muro em si quase não existe mais. O povo fez questão de derrubar boa parte dos vestígios do exílio, apagar um passado relativamente recente (30 anos?) e construir uma cidade nova (o que, historicamente, é uma pena, seria como se os baianos demolissem o Pelourinho). De certa forma, conseguiram. A nova Berlim é grande, bela e refinada. O muro caiu, o tempo passou e a Alemanha se tornou o país mais rico da Europa. Mas não pôde evitar um curioso impasse de imagem pública – apesar dos modernos edifícios, parques e praças, a maioria dos pontos de interesse históricos da cidade foram erguidos pelo nazismo ou pela Guerra Fria. O desconforto é inevitável. Depois de tantos fuzilamentos, deve-se ou não convidar os visitantes a conhecer o muro? E o belo cemitério de judeus? E o monumento a Hitler? As câmeras de gás entram ou não nos guias? Um dilema que eles chamam de “constrangimento turístico”.
Bem, podemos dizer que os souvenirs alemães são inusitados – pedaços do muro, postais dos bombardeios, chapéus com máscaras de gás – e que, por enquanto, a maioria das agências de viagens preferem encaminhar a turba romântica de turistas do mundo para a Torre Eiffel, Veneza ou Disneylândia. Berlim é para poucos. Mesmo rica e linda, a capital ainda não sabe o que divulgar para o turismo de massa e vive uma autêntica crise de identidade que nem um dos maiores PIBs do mundo pôde resolver. As vítimas do muro ainda estão vivas. Tudo é recente e denso demais para chamarem de passado. Em vários pontos da cidade, seria impossível a um visitante mais sensível não perceber a cicatriz alemã desenhada no chão – a linha de cimento pré-moldado que eles não deixam apagar – e não se perguntar sobre tantos outros muros cotidianos – a morte, a perda, a separação. Sobre tudo o que é repentino e irreversível, inesperado e inevitável. Berlim é uma cidade desconcertante. Olhar para o chão riscado convida o visitante a olhar um pouco para os próprios passos – num passeio banal, na festa de sexta à noite, na ida ao supermercado – e induz esta desconfiança histórica a um dos nossos receios mais íntimos e humanos – o de, um dia, ser surpreendido do lado errado.