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Posts Tagged ‘mariana miranda’

(Guel Arraes / Romance)

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Figuras de linguagem são implacáveis. Eu tenho usado algumas terríveis. O vocabulário nos entrega quando estamos ficando velhos. 

Outro dia, falando sobre futebol, argumentei que inteligência espacial mesmo era encaixar a feira do mês inteira dentro da geladeira. Horror. Em outro, comentei o desalento nacional diante da escolha de novos líderes relacionando-o com aquelas prateleiras de folhas do supermercado – nabo, chicória, sálvia, endívia – também não entendo a diferença, pra mim é tudo mato. O fundo do poço mesmo foi ter feito uma analogia entre festas e a limpeza dos sanitários da minha residência. 

Festas. Limpeza. Sanitários. 

Foi terrível.

Falei que a minha vida social era tão confusa que, às vezes, parecia a saga dos quatro banheiros. Um fenômeno comum por aqui. Aonde cada um deles, independente dos esforços de manutenção, revezam-se numa ciranda interminável de demandas isoladas: quando o primeiro banheiro encontra-se limpo e perfumado, já é hora de repor o sabonete do segundo, recolher o lixo do terceiro, abastecer a pasta de dentes do quarto e voltar para trocar a lâmpada queimada do primeiro, trocar o circuito do chuveiro do segundo, desentupir o ralo do terceiro e substituir o basculante do quarto que foi atingido por um objeto arremessado de outro andar provando que nada é tão cansativo que não possa contar com acréscimo externo para piorar e, é claro, aproveitar a presença do vidraceiro – já que, para trocar aquela lâmpada na noite anterior, você precisou acender uma vela e o calor da chama trincou o espelho do primeiro banheiro e por isso mesmo… enfim. Ciclo perpétuo. Se alguém aqui levasse a casa a sério, já teria parado para estudar esse motocontínuo, essa Fênix, queria Nietzsche ilustrar o Eterno Retorno com a mesma didática daqueles banheiros.

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Às vezes, me dá saudade da casa da minha mãe. Onde as luzes simplesmente acendiam e as descargas miraculosamente funcionavam. Jovens, aprendam: envelhecer é descobrir que até dentro da geladeira tem lâmpada pra você trocar. Que, enquanto você estiver vivo, vai ter prato em cima da pia. Ontem, no meio de um diálogo, eu disse a meu amigo que ele estava muito sério: parece até que esqueceu um bolo no forno. Para outro, acrescentei que estava um dia lindo: um dia bom para o varal. Temo que este seja um caminho sem volta. Prevejo um futuro tenebroso com gírias fora de uso e piadas do pavê. Comigo argumentando que, no meu tempo, era tudo diferente. Usando metáforas que incluam dentaduras e fraldas geriátricas. Num papo cheio de nove horas. Do arco da velha. Do tempo do ronca. Chato pra dedéu. 

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“Não a posso deixar aqui sozinha. Não estaria sozinha. Estaria sozinha de mim, que é a solidão que me interessa e a de que tenho medo.” (pág. 29)

“Estaria numa aniquilação imediata também, poupando-me a miséria de ver o sol que arde sem respeito por qualquer tragédia.” (pág. 36)

“Gosto desta maldade, não podemos ficar velhos e vulneráveis a todas as coisas, temos que nos rebelar aqui e acolá, caramba, temos que estar a postos para alguma retaliação, algum combate, não vá o mundo pensar que não precisa tomar cuidado com as nossas dores.” (pág. 87)

“É um sentimento que fica escondido, à boca fechada, por quê sabemos que talvez não devesse existir, mas existe por quê o passado, neste sentido, é mais forte do que nós. Quem fomos há sempre de estar contido em quem somos, por mais que mudemos ou aprendamos coisas novas.” (pág. 130)

“Eu, de fato, ainda adoro a Amália e ouço-a quase a chorar se for preciso e se tivesse que escolher um único português para entrar no paraíso, talvez quisesse que fosse ela, para eternizar de verdade aquela voz, a maior voz da desgraça e do engano dos portugueses. Pena não haver paraíso, já não haver Amália e ter havido e sobrar tanta desgraça e engano.” (pág. 147)

“Somos um país de cidadãos não praticantes. Somos um país de gente que se abstém.” (pág. 167)

“Havia uma morte para cada um. Alinhada como em fileiras do exército, aprumada em grande brio para vir colher quem lhe competia no momento certo. A morte era, afinal, a mais organizada das instituições. Cheia de afazeres e detalhes, mas muito competente e certeira.” (pág. 190)

“Deus é uma cobiça que temos dentro de nós. É um modo de querermos tudo, de não nos bastarmos com o que é garantido e já tão abundante. Deus é a inveja pelo que imaginamos. Como se não fosse suficiente tanto quanto se nos põe diante durante a vida. Queremos mais, queremos sempre mais, até o que não existe nem vai existir.” (pág. 203)

“Sabes que os peixes têm uma memória de segundos. Aqueles peixes bonitos que vês dentro dos aquários pequenos, sabes que têm uma memória de segundos, três segundos, assim. É por isso que não ficam loucos dentro daqueles aquários sem espaço, por quê a cada três segundos estão como num lugar que nunca viram e podem explorar. Deveríamos ser assim, a cada três segundos ficávamos impressionados com a mais pequena manifestação de vida, por quê a mais ridícula coisa na primeira viagem seria uma explosão fulgurante da percepção de estar vivo.” (pág. 247)

(Valter Hugo Mãe / A Máquina de Fazer Espanhóis, 2010)

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“No momento em que um homem parte para uma viagem ou se prepara para mudar de vida, são muitos os pensamentos que o assaltam, desde que seja pessoa capaz de reflexão. Todo o passado lhe ocorre e faz projetos sobre o futuro.” (Pág. 121)

“Enquanto não gostamos de alguém, é como se estivéssemos a dormir. Não somos mais que pó. Mas assim que um homem começa a amar, é como se fosse Deus, sente-se puro como nos primeiros dias da criação.”  (Pág. 154)

“Não pensava em fazer mal às pessoas para daí obter êxito. Era apenas um homem de sociedade, bem-sucedido, que se acostumara a ter êxitos.”  (Pág. 243)

“Encontrará em minha casa a bela Helena, a quem nunca cansamos de olhar.” (Pág. 247)

“E, desde de que fizera esta descoberta, já não lhe era possível ver mais nada, pela mesma razão que já não somos capazes de aceitar um erro uma vez que o conheçamos.” (Pág. 249)

“Ainda és tão novo. Ainda precisa de conselhos. Não me leve a mal por eu usar dos meus direitos de velha.” (pág. 250)

“E, apesar de tudo, só uma coisa me interessa, só uma coisa me absorve: o desejo de triunfar sobre todos. Só me interessa esta força misteriosa, esta glória que eu sinto pairar aqui por cima de mim, no meio desta neblina!” (Pág. 323)

(Leon Tolstói / Guerra e Paz – Volume 1)

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Nossa tradicional seleção dos melhores do ano especialmente para os excluídos do meu Brasil: 

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“A porta estava trancada

E o universo

Tocava a minha música.”

(Charles Bukowski / Hino da Tormenta)

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Um encontro marcado para hoje mesmo dificilmente será produtivo. Melhor deixar para amanhã. A antecedência de uma semana é o ideal. Acredito que um pouco de inacessibilidade é necessária para peneirar a qualidade dos encontros – discerne o interlocutor que deseja conversar com alguém e o interlocutor que deseja conversar com você.

Talvez seja esse o último degrau para a idade adulta: evitar uma vida rodeada de figurantes. Você se economiza numa mesquinhez discreta, ponderada. Não confundir com se colocar numa ilha deserta: ocasionalmente, é importante ter com quem comentar as notícias do jornal, ouvir uma piada, aceitar sugestões sobre um novo modo de picar cebolas. Você até comparece às festas, cumprimenta a todos, mas escolhe uma mesa na varanda. Longe da pista, longe da confusão, do som alto. Longe da festa. Você prefere uma operadora de celular pouco conhecida, decide morar num bairro difícil e a sua casa não tem wi-fi. Mas a porta segue aberta.

Não digo que a pessoa se ponha num pedestal – pode dar a impressão errada e talvez você não valha o esforço da subida. Mas acredito que seja esse o preço por um passado de extrema sociabilidade – certa impaciência para diferenciar amigos, conhecidos e o resto da raça humana. É muita gente e você nunca sabe quem veio para ficar. Na dúvida, aceite todos os convites. Jamais seja evasivo, sugira local e data. Deixe o outro decidir se ele quer mesmo que aconteça. Esteja sempre disponível – pra daqui a uma semana.

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“Meu pai não aprova o que eu faço, tão pouco eu aprovo o filho que ele fez.”

“Nenhum supermercado satisfaz meu coração”

“A gente se olha, se toca e se cala e se desentende no instante em que fala.”

“Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida. Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais.”

“Cai o Muro de Berlim – cai sobre ti, sobre mim, a nova ordem mundial.”

“Não quero amar, não, nunca mais. Que esse negócio de amor já não se faz sem punhais.”

“No escritório em que eu trabalho e fico rico, quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor.”

“Meu coração, cuidado, é frágil. Meu coração é como um vidro, como um beijo de novela.”

“Mas não se preocupe, meu amigo, com os horrores que eu lhe digo, isso é somente uma canção. A vida, a vida realmente é diferente. Quer dizer, ao vivo é muito pior.”

“Se você vier me perguntar por onde andei no tempo em que você sonhava, de olhos abertos lhe direi: amigo, eu me desesperava.”

“Completamente sem metas, sentado: não tenho sido.”

“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro, ano passado eu morri mas esse ano eu não morro.”

“Tudo muda. E com toda razão.”

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