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Posts Tagged ‘poesia’

Acho que Salvador, Lisboa e Havana têm algo em comum: uma certa austeridade histórica, tipo um charme decadente. São cidades eternas. Enquanto outras metrópoles seguem tendências, disputam vitrines, agitam-se em museus de grandes novidades, estas varrem a calçada sem pressa. Estendem o varal. Não precisam inventar nada.

Elas são o antônimo da Flórida, de Florianópolis ou de Dubai, onde tudo cheira a plástico, whey e dinheiro. A maior roda gigante do mundo, o maior arranha-céu, a maior praia artificial – quem quer ir a uma praia de mentira? Parecem jovens aflitos tentando impressionar.

Nas cidades eternas tudo é meio antigo e meio gasto e tão orgulhoso de si mesmo. Estão do lado oposto da moda. O verdadeiro ponto turístico é observar como as pessoas dali vivem. É sentar na calçada e não querer mais ir embora.

Eu nasci numa cidade atemporal e acho que nunca me contentaria com menos. Há lugares que estão ansiosos por se tornarem algo. E há cidades que, há séculos, já chegaram aonde queriam estar.

E olha que são apenas 476 anos. Feliz eternidade para você, Salvador

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Do poeta palestino Marwan Makhoul, pela curadoria de Katia Borges

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@Sulains

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Falar de amor

como se fala de uma cidade

como se fala de um inseto

que apareceu no meio da noite.

Como se fala

de um sonho

de uma mentira

de um gato preto no telhado

do vizinho

de uma rede de pesca

de uma gota de chuva

do sofá da casa da minha avó.

Falar de amor como se fosse algo casual como contar um dois três cantar parabéns em aniversários dizer saúde depois de um espirro e bom dia depois de acordar e boa noite antes de dormir como se fala oi tudo bem e se responde tudo e como você e se diz quanto tempo passe em casa que saudade vamos nos falando.

Então continuar a falar de amor

como se esse fosse

o único assunto possível.

Por que é.

(Clarissa Sabino / Nada disso é para você)

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Eu

quando olho nos olhos

sei quando uma pessoa

está por dentro

ou está por fora.

Quem está por fora

não segura

um olhar que demora. 

De dentro de meu centro

este poema me olha.

(Paulo Leminski / Caprichos)

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“Raramente penso em ti.
Teu destino pouco me interessa.

Mas de minha alma ainda não se apagou
o brevíssimo encontro que tivemos.

Evito, de propósito, tua casinha vermelha,
tua casinha vermelha junto ao rio lamacento;
mas bem sei com que amargura
perturbo a tua ensolarada quietude.

Embora não te tenhas inclinado sobre mim
suplicando-me que te amasse,
embora não tenhas imortalizado
o meu desejo em versos dourados,
secretamente lanço encantamentos para o futuro,
sempre que as noites são de um azul profundo,
e tenho a premonição de um segundo encontro,
um inevitável segundo encontro contigo.”

.

(da russa Anna Akhmátova, no poema “Raramente Penso em Ti”, de 1913, tradução de Lauro Machado Coelho)

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(Ana Martins Marques / O Livro das Semelhanças)

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“Era um desses dias em que tudo corre bem.

Tinha limpado a casa e escrito 

dois ou três poemas que me agradavam.

Não pedia mais nada.

Então saí pelo corredor para retirar o lixo

e, atrás de mim, com um pé-de-vento,

a porta se fechou.

Fiquei sem chaves e às escuras

sentindo as vozes de meus vizinhos

através de suas portas.

É transitório, disse a mim mesmo;

porém assim também podia ser a morte:

um corredor escuro,

uma porta fechada com a chave para dentro.

O lixo nas mãos.”

.

.

(do poeta argentino Fábián Casas / Sem chaves e às escuras)

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“E ouviria você recitar o poema por dez ou doze vezes. acho que te pediria para recitar durante a noite inteira. a sua voz, você, o poema. já é noite. te peço: recita o poema. daqui eu te escuto. diria-te que tua voz soa como barulho de mar que acalma, mas soaria clichê. digo-te apenas que te escuto, sabes bem que te escuto. a noite até ficou mais bela. posso ver e ouvir você recitar o poema. você, a noite, a voz. te peço: recita o poema.”

(Janiele Marinho / Azul Ausente)

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“Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.

Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva.”

(Bertolt Brecht / Para Ler de Manhã e à Noite, no livro Poemas 1913 – 1956, pág. 143)

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