Acho que Salvador, Lisboa e Havana têm algo em comum: uma certa austeridade histórica, tipo um charme decadente. São cidades eternas. Enquanto outras metrópoles seguem tendências, disputam vitrines, agitam-se em museus de grandes novidades, estas varrem a calçada sem pressa. Estendem o varal. Não precisam inventar nada.
Elas são o antônimo da Flórida, de Florianópolis ou de Dubai, onde tudo cheira a plástico, whey e dinheiro. A maior roda gigante do mundo, o maior arranha-céu, a maior praia artificial – quem quer ir a uma praia de mentira? Parecem jovens aflitos tentando impressionar.
Nas cidades eternas tudo é meio antigo e meio gasto e tão orgulhoso de si mesmo. Estão do lado oposto da moda. O verdadeiro ponto turístico é observar como as pessoas dali vivem. É sentar na calçada e não querer mais ir embora.
Eu nasci numa cidade atemporal e acho que nunca me contentaria com menos. Há lugares que estão ansiosos por se tornarem algo. E há cidades que, há séculos, já chegaram aonde queriam estar.
E olha que são apenas 476 anos. Feliz eternidade para você, Salvador




