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Posts Tagged ‘rotina’

Hoje acordei com a minha caçula pintando as paredes da casa com pasta de dente, alguém deixou um refrigerante estourar no freezer e chegou um e-mail dizendo que meu texto foi recusado por que estava faltando – veja bem – o meu próprio nome. Eram oito da manhã e eu já estava bem chateada, então decidi desabafar com uma colega mandando um áudio de Whatsapp, só que enviei o áudio para um antigo grupo feito em homenagem a ela (o grupo tinha o nome dela e a foto dela no perfil) onde estavam todos os nossos CHEFES E COLEGAS DE TRABALHO. Imediatamente me desculpei com todos, deletei a mensagem e me exclui do grupo e estou desde cedo recebendo dezenas de vídeos motivacionais pelo Whatsapp privado.

Bom dia a todos. 

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Estou do lado de fora da sala de aula. O professor já entrou. Eu perdi na avaliação desta disciplina por que enviei um documento errado. Não bastava estar apanhando miseravelmente da bibliografia em francês, eu mandei o documento errado. Fui reprovada. Todo mundo soube. Eu não quero entrar.

Sei que constrangimento é uma forma de vaidade e fico aqui pensando em um episódio de Machado de Assis, que li há muitos anos. É quando o pai de Capitu, o Sr. Pádua, empregado numa repartição, assume temporariamente o cargo do seu superior. O chefe precisava ir para a Europa e, naquela época, esta era uma odisseia que durava meses. Enquanto administrador interino, ele passou a ganhar o salário do diretor. Comprou carro, roupas, joias, incorporou um novo estilo de vida para a família, passou a ser reconhecido nos lugares. Vinte e dois meses depois, com o retorno no chefe, o Sr. Pádua entra em desespero:

– Não hei de confessar à minha gente esta miséria. E os outros? Que dirão os vizinhos? E os amigos? E o público?

– Que público, Sr. Pádua?

Na época, este diálogo, tão periférico na trama, me fez rir muito. Acho que foi de nervoso.

Houve um dia, ano passado, em que eu acordei num lugar desconhecido. Não conseguia levantar. Apalpando as coisas no escuro, entendi que estava numa maca e que talvez aquilo fosse um ambulatório. Ao invés de chamar alguém e fazer perguntas, eu simplesmente me deixei ficar ali. Era a primeira vez em meses em que eu estava completamente sozinha. Achei inacreditável aquele silêncio.

(Eu tive um problema no cérebro causado por exaustão).

Mais do que nunca, imagino que mudanças importantes desenrolam-se em hiatos. Casulos, cascas de ovo, ritos de passagem que transcorrem nos bastidores. Veja só, pela tradição, o que é um casamento? Os noivos fazem uma celebração, viajam em lua de mel e retornam à sociedade como pessoas casadas. Se alguém que perde o cônjuge, fecha-se em luto e retorna como viúvo. Um casal engravida, tira uma licença e retorna como família. Se até o Divino precisou de 40 dias no deserto para se preparar para uma vida nova, quem sou eu para desmerecer uma fuga? Apenas reservem. Meu lugar. Nesse foguete.

Estou na porta da sala. Cansada e constrangida. Estou lembrando de um filme de James Bond, quando o informam que a cabeça dele estava valendo uma recompensa de um milhão de dólares. Antes de fugir, ele duvida da informação: um milhão? Ninguém vale tudo isso.

Constrangimento é vaidade. Que público, Sr. Pádua? Ninguém vale tudo isso.

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Ela era uma babá nos anos 50. Nas horas vagas, Vivian Maier saía para fotografar as ruas. Acho o trabalho dela lindo e sofisticado, mas gosto especialmente do fato dela ser a precursora das selfies.

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O trabalho de Vivian me fez notar que as pessoas não registram suas vidas. Fazem fotos de viagens, de festas, de excessões. Este ano, passei a me fotografar nos lugares da minha vida real: no banco, no mercado, no espelho de segurança do estacionamento. Sem o propósito estético das selfies atuais, sem filtro. Também sem o talento nem a Rolleiflex da Vivian. Nem sei o que fazer com essas imagens. Ela também não sabia o que fazer com as dela e deixou tudo num baú trancadíssimo num sótão aleatório de Nova York.

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Pois é, Vivian, acho que esse blog é o meu baú. Mas ele segue aberto. Aqui, num sótão aleatório da internet.

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Todas as vezes em que passei sob os arcos do Terreiro do Paço, eu pensei comigo: pisar aqui é um privilégio. Mesmo passando ali todos os dias. Fosse voltando do trabalho ou indo à padaria, mesmo na mais rasteira e desinteressante das rotinas, quando o inverno era cinza e o pão menos farto e eu me sentia mais sozinha que aquela estátua no meio da praça, eu enxergava a grandeza daquela oportunidade. Eu sabia que ali, naquele momento, eu era uma privilegiada.

O Terreiro do Paço é uma das coisas mais bonitas que eu já vi na vida.

Hoje, meus caminhos são os mais desimportantes da minha cidade. Mas tenho vivido um outro tipo de privilégio, um benefício delicado. De noite, olhando a janela, baixo os olhos, agradecida. Reconheço quando estou vivendo uma grande oportunidade.

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Uma vida resumida em:

– Vou renovar, abrir espaço na casa, as estantes estão pesadas. Já separei até uns livros para doar.

– Separou quantos?

– Dois.

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