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Posts Tagged ‘mariana miranda’

“No último parágrafo de Bartleby, O Escrivão, o narrador menciona um boato que lhe havia chegado aos ouvidos a respeito da vida que levava aquele personagem antes de chegar ao escritório em Nova York. Teria sido ele um funcionário subalterno na Repartição de Cartas Mortas, local para onde eram encaminhadas as cartas extraviadas. Estas cartas estavam condenadas a desaparecer pelas mãos de um destinatário imprevisto: é Bartleby quem, na sua solidão, teria a tarefa de prepará-las para as chamas, que faz arder aquela multidão de páginas dobradas, colocando um fim à sua errância. A atividade não poderia deixar de ser um aprendizado intolerável: enquanto as manuseava, lia a possibilidade de encontros que teria acontecido, mas que não se deram. (…) Entre o remetente e o destinatário há a desmedida das distâncias, não é raro que as cartas, desfazendo as restrições do seu destino, passem a vaguear ao acaso pelo tempo e pela geografia. Podem ser encontradas por alguém, restar no fundo das gavetas, perder-se antes que alguém as tenha lido, desaparecer ou persistir em tantos outros rumos imprevisíveis – seu caminho passa sempre pela interrupção, pelo intervalo. Até chegarem a Bartleby, o derradeiro destino das palavras extraviadas.”

(Maria Carolina Fenati / Gratuita, pág. 12)

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Hoje de manhã cedo esse blog já estava com uns 1.500 acessos.
Se cada acesso valesse 1 real, hoje seria dia de jantar em Paris, confere?

Ponderando sobre a questão, apenas.

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mais do que a própria guerra

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Ironicamente, tudo o que eu sei hoje sobre política começou na escola, numa aula sobre as crueldades da ditadura militar. Eu fiquei impressionada. Meu avô foi me buscar no colégio e eu fui logo perguntando sobre onde ele esteve em 64: como eram as passeatas, se ele também correu da polícia, se algum amigo dele tinha desaparecido. Mas meu avô sorriu e explicou que tinha sido um simpatizante dos militares: naquela época, a economia prosperava. O Brasil era o país do futuro. Que tinha sido um tempo bom.

Eu fiquei perplexa como só uma criança poderia ficar.

Meu avô era uma boa pessoa. Ele pensava como a maioria das pessoas da geração dele. Ele não percebeu que a geração dele estava errada.

A gente precisa desconfiar o tempo inteiro de tudo o que é considerado normal pela nossa geração.

Hoje, acho que eu faço política só por quê, daqui a 50 anos, as crianças podem me perguntar se eu participei de algum movimento de vanguarda. Se eu lutei por algo, se perdi amigos. Se eu corri da polícia em alguma passeata. Talvez elas perguntem se eu fiz campanha pela igualdade racial ou aonde eu estava no dia do Orgulho Gay. Podem perguntar se eu também fui chamada de feminazi na internet, se também me mandaram pilotar fogão, se eu conheci o spray pimenta ou se só assisti pela televisão. Vão querer saber se eu fazia coleta seletiva, se andava de bicicleta, se apoiei o movimento antimanicomial, se tive amigos travestis. Talvez questionem se fui contra a criminalização do aborto, se fui doadora de sangue, se apoiei o estado laico, se namorei algum cadeirante. Vão perguntar se eu sabia da escravidão na China, no Estado Islâmico, aonde eu estava nos dias de guerra. Se alguém se tornou meu inimigo por causa disso. Em quem eu votei em 2018.

As crianças vão perguntar por conquistas que parecerão óbvias para a geração delas, mas que não parecem óbvias agora.

É bom estar preparada. Não basta ser uma boa pessoa.

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Pensar na sua chegada me faz lembrar a história de um amigo meu que tinha carro, mas não tinha carteira de motorista. Por falta de tempo, de dinheiro, de paciência: trabalhava perto, era caseiro. Bastava sair pouco, fazer trajetos curtos, em horários de pouco fluxo. Sem problemas. Ficou assim por anos.

Não é que ele detestasse dirigir. Gostava de guiar, por exemplo, depois da última sessão de cinema, de madrugada, com os vidros abertos. Numa dessas noites, voltando pra casa, tocou uma música no rádio: era uma música antiga que ele adorava. Linda. Ele já estava chegando, aí aumentou o volume e resolveu dar mais uma volta no próprio quarteirão só para ouvir até o fim. Até a música acabar. E ela acabou.

Aí tinha uma blitz.

Infração grave, cinco pontos na carteira, apreensão do veículo, multa e penalidades diversas.

Ridiculamente traído pelo acaso, meu amigo precisou frequentar a auto escola para aprender algo que ele sempre soube: dirigir. Gastou tempo e dinheiro. Pelo menos agora já podia sair em qualquer hora e lugar. Naquele ano, ele foi visitar um colega nosso em outra cidade e fez um passeio de férias. E começou a viajar sempre que podia, conhecendo tudo pelas estradas. O mundo dele ficou maior. Ia cada vez mais longe.

Meu amigo já não mora mais aqui. Quando a gente se reencontra, sempre alguém fala sobre a história da carteira de motorista e ele dá risada. Diz que, às vezes, a gente se acomoda com pouco, mas que se você estiver aberto a mudar de rota, coisas fantásticas podem acontecer. São os sinais do universo. Como eu acredito que aconteceu para mim.

Tenho pensado muito em você, que entrou na minha vida como uma música linda.

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(José Luis Peixoto / A Criança em Ruínas)

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“E nesses dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos…”

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Mas, finalmente, aquilo era documento ou ficção? O diário de Hemingway citava despretensiosamente um país chamado Andorra, que eu julguei não existir. Minúsculo, entre a França e a Espanha, sem aeroporto, sem estação de trem, isolado entre as montanhas dos Pirineus. Desde os chalés de pedra cobertos de neve, os trenós puxados por cães e iglus com banhos térmicos: tudo parecia ficção. Das melhores. Mas não era.

(Desconfiei que não era quando não encontrei nenhuma referência no Dicionário de Lugares Imaginários. Conhece esse livro? 700 páginas com todos os cenários utópicos do cinema e da literatura, de Oz à Springfield, de Hogwarts à Passárgada, com mapas e referências das paisagens reais que os inspiraram. O guia de viagens do sonhos. Já conhecia? De nada.)

Fiquei obcecadamente lendo sobre o assunto, como é que eu nunca tinha ouvido falar desse país? Tão próximo da cidade onde eu morei, estive duas vezes naquela divisa, andei a pé por aquela estrada. Pesquisei fotos na internet e mostrei para alguns amigos: ninguém conhecia. Andorra virou nossa metáfora para oportunidade desperdiçada.

Dizem que, do ponto de vista da Semiótica, as coisas passam a existir de uma maneira mais sólida depois que ganham um nome. A ideia de ter caminhado ali ignorando a existência de Andorra me fez pensar sobre tudo o que eu ainda não sei – e que pode me parecer um vacilo imperdoável daqui até, sei lá, 2030. Me aflijo pelas descobertas futuras, pelas coisas que eu julgo conhecer muito bem. Talvez não conheça. Envelhecer é descobrir que a gente estava errado.

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(Fonte: Google)

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